terça-feira, 12 de agosto de 2008

Comentário sobre o texto: Cultura extraviada nas suas definições---Nétor Gárcia Canclini

Os signos e a cultura contemporânea

Definir cultura sempre me pareceu, no mínimo, um processo complexo. Com o conhecimento de um leigo, definimos cultura como um processo, é parte do contexto social, no entanto, voltado para expressões artísticas. Esse é o primeiro conceito ao qual Canclini se contrapõe no seu texto "Cultura extraviada nas suas definições". Fiquei curiosa, logo de início, não pela surpresa de contrapor-se a um conceito que limita cultura enquanto uma prática refinada e separada do resto do contexto social, mas por propor uma definição sociossemiótica da mesma.
Depois de ter estudado em Teorias da Comunicação e agora neste texto, percebi que o fato de estarmos, na América Latina fora do ciclo dos países mais desenvolvidos e dominantes permite aos teóricos uma visão mais abrangente.
O movimento que Canclini realiza é de apresentar suas críticas às concepções mais comuns da palavra para depois falar de suas dimensões mais amplas. Também recupera no conceito que é apresentado por ele algumas idéias presentes nos conceitos que considera incompletos. A oposição de natural/cultural foi para mim um ponto de partida. Primeira distinção do que é cultura: aquilo produzido pelo homem. Para delimitar melhor uma outra oposição: cultura/sociedade. A sociedade é um conjunto de estruturas que organizam e realizam a distribuição dos meios de produção e do poder entre indivíduos e sujeitos. Nesse ponto pensei em destacar uma observação. A cultura é um componente do contexto social, porém se encontra em constante movimento. Muda conforme o país, a região, a época e atualmente, sofre um processo para que possa ser entendida sobre duas vertentes: a do particular e a do global. Por isso é de extrema pertinência utilizar comparações para que uma melhor definição possa ser apreendida.
Seguindo na definição que conduzirá a uma relação direta com a semiótica temos a contribuição de Jean Boudrillard que diferencia quatro tipos de valores na sociedade. E é claro que sabendo que a cultura, qualquer que seja ela, se baseia em conjuntos de valores, então tais valores influem diretamente em seu conceito.
Os valores reconhecidos por todos nós dentro de um contexto capitalista são o uso e o de troca que, portanto, dispensam explicação. O interessante de notar nos outros dois é que dificilmente se dissociam de nossa atualidade. São os valores de signo e de símbolo. O primeiro, creio que seja mais perceptível dentro de uma sociedade de consumo. Afinal, diz respeito a um conjunto de significações possíveis de um objeto, um bem de consumo do ponto de vista de um status e é capaz de refletir a posição social dos sujeitos. É no âmbito do valor signo que são construídas as propagandas publicitárias. O outro valor de Boudrillard é o símbolo que pelo que entendi é de certa forma afetivo. O valor é conferido pela maneira como foi adquirido o bem, ou seja, quem o oferece ou a quem remete ou faz lembrar. Feitas as definições, fica esclarecido que esses dois valores não se enquadram na materialidade do objeto e logo remetem a uma questão que escapa à econômica. Agora sim, chegamos ao centrol do texto a cultura é quem rege tais valores.
Um questionamento que faço nesse ponto é: será que sem a sociedade contemporânea ( propagandas, cinema fotografia) a semiótica teria se desenvolvido? Ou ela é a ciência que cresce nessa conjuntura de significações e re-significações possíveis atualmente?
Então, a cultura é o que confere sentido às diversas práticas sociais. Para finalizar essa preposição, que depois do percurso do autor parece evidente, cabe especificar como se dá tal inserção. Já que a cultura está presente no reconhecimento cognitivo do mundo podemos dizer que ela está em todo lugar. Há cultura não só em espetáculos de dança e no vestuário, mas também nos hábitos do trabalho, na hierarquia de poder dentro de uma instituição e creio eu mesmo na economia a administração estatal. Porém esse ponto ainda é de uma nebulosidade (o termo aparece na falta de um melhor) entre os teóricos. A grande distinção não se fará pela presença ou não da influência da cultura, mas pela "quantidade", ou seja, a porção de conteúdo que é cultura em comparação com outros.
Para mim nesse breve comentário busquei sintetizar que a cultura está em constante redefinição. Isso porque são vários fatores que a compõe e os quais ela também ajuda a construir. Uma outra ressalva é a de que conceituar a cultura como fez Canclini só foi possível devido à percepção dela e suas práticas aos olhos de várias épocas e principalmente da atualidade. É na globalização que observamos o surgimento do intercultural, onde várias culturas se misturam e se relacionam. Do mesmo modo que sugere, Canclini não soluciona a questão, ele fala de um "cultural" que será mais abrangente que a cultura, porém ainda confuso. Acho que a questão que fica para ser pensada é ainda podemos falar de cultura de um povo, uma nação? Se podemos até quando ela existirá? A globalização será capaz de conduzir condensar as diferenças. Sem dúvida continuarão existindo diferenças entre as nações e regiões, o que pode mais uma vez transfigurar-se é o conceito de cultura.
Talvez seja permitido dizer que a cultura é da ordem da terceiridade, remete a um referencial, um código conhecido e re-conhecido pelos indivíduos de uma dada sociedade. Dentro de tais regras a rama de significados encontra-se em constante transformação, podendo re-significar sempre.
Alexandra Duarte

2 comentários:

Unknown disse...

Oi Alexandra,
que ótimo o seu post!
sobre a primeira questão que coloca: Na verdade a semiótica, entendida enquanto ciência dos signos, já existia antes e apesar do que denominamos de sociedade contemporânea. Veja que Aristóteles já definia o conceito de signo! Mas, concordo com você em observar o intenso crescimento dos mecanismos de produção de mensagens e, com isso, uma necessidade cada vez maior de práticas de interpretação!
Daniela Matos

Unknown disse...

continuando...
Acho que podemos falar, ainda que de um novo modo, da cultura ou das produções culturais de um grupo, um coletivo, e que, portanto os identifica enquanto tal! Ainda que a gente perceba marcas não-essencialistas nessas produções, como o próprio Canclini propõem, a idéia de hibridação! Vamos conversar mais sobre essa questão!