domingo, 24 de agosto de 2008

PIB DA CRIATIVIDADE

Na cidade da grana, formas não convencionais de expressão cultural impõem novas relações de mercado.

São Paulo é sinônimo de caos urbano. A cidade foi construída na desordem, sem qualquer planejamento, e representa todos os elementos de um sistema em que a competição pelo sucesso e a busca pelo lucro superam qualquer trabalho por um ambiente saudável de vida coletiva. A poluição contamina o ar e os rios, o trânsito paralisa a cidade, os motoristas de carros e motos se sobrepõem aos pedestres, a violência se incorpora ao dia-a-dia e a busca por moradia nessa selva faz com que os habitantes das periferias invadam mananciais, e os mais ricos vivam em fortalezas.

Do ponto de vista da organização cultural, a cidade também é caótica e desigual.Os equipamentos públicos culturais são subutilizados, dominados pela burocracia e pela caretice. Mas, nas entrelinhas, nasce e cresce vertiginosamente uma arte resultante da diversidade gerada na interpretação e na resistência ao caos.

Seus intérpretes fazem parte de uma geração que assimilou a linguagem da internet, dos movimentos urbanos, da moda, da publicidade e de formas não convencionais de expressão. Em contraposição à falta de contato com equipamentos formais , esses personagens se organizam em coletivos, clubes noturnos, e galerias que não habitam somente o underground dos bairros mais movimentados como também buscam outros ares, revitalizando regiões da cidade.

Estão por aí: dos Jardins ao Cambuci, do Baixo Augusta à nova Barra Funda, da Liberdade à Vila Madalena. A cidade se reinventa pela mão de gente muito nova e muito longe dos gabinetes e das decisões. Indie, hip hop, rock, graffiti, stickers, mangá, skate, cartoons, toy art, lambe-lambe, arte eletrônica. As palavras soltas dão pistas dessa realidade.

As diversas expessões do comportamento, antes vistas apenas como formas de agrupamento e de busca de identidade de movimentos juvenis nesse mundão, agora já se caracterizam como incríveis nichos econômicos de uma infinita “calda longa”, capaz de superar na soma de tantos microuniversos de consumo cultural, os líderes das paradas de sucesso.

A teoria do jornalista e escritor Americano Chris Anderson, editor da revista Wired, que em seu best seller “ The Long Tail” identificou a mudança dos hábitos de consumo cultural , contrapondo a economia do nicho com a economia do hit, já é visível no caos de São Paulo, com força e vitalidade. A soma dos públicos que freqüentam as centenas de clubes da cidade numa noite já supera o de grandes festivais; a multiplicação de marcas e iniciativas no universo da moda já faz a indústria repensar suas estratégia e linguagem; as pequenas galerias batem em relevância e público a arte velha e sisuda.

Como espelho de tudo isso, eventos importantes como a São Paulo Fashion Week e seminários de instituições estratégicas como o BNDES mergulham de cabeça no tema e buscam compreender o papel da diversidade cultural na economia. Vivemos um momento crucial, em que os operadores deste universo devem atuar de forma incisiva na defesa dessa realidade, para que a sociedade como um todo compreenda que todas as novas formas de expressão cultural merecem ser cultivadas. É necessário e urgente buscarmos calcular o quanto gira em torno dessa cultura alternativa que pipoca pelas ruas. Precisamos determinar qual o PIB DA TRANSGRESSÃO, para que possamos demostrar em números a importância desse fenômeno social.

Na cidade da grana, o universo da cultura alternativa se organiza para falar a lingua que São Paulo mais entende, e, dessa maneira, ativar a economia da criatividade. Os mais importantes clubes noturnos da cidade, por exemplo, criaram o movimento NOITE VIVA, para valorização da vida noturna. Em parceria com a Prefeitura já participaram do Aniversário de São Paulo e agora terão um palco na Virada Cultural. A disponibilização de postos de trabalhos noturnos para projetos sociais, um plano de incentivo ao turismo focado na noite paulistana, rotas de transporte público noturno e auxílio nos projetos de reurbanização de áreas degradadas já estão na agenda. Outro exemplo relevante são as exposições coletivas que a Galeria Choque Cultural promove. Recentemente os artistas mais importantes da arte urbana americana mostraram suas obras. Atualmente, uma ampla exposição com artistas japoneses em comemoração aos 100 anos da Imigração ocupa o local. Muito mais do que uma galeria, a Choque é uma agitadora que movimenta o mercado dessa arte, cultiva colecionadores e faz a ponte de vários artistas brasileiros para o mercado formal e internacional.

Iniciativas coletivas em busca de canais de mercado para novos criadores se multiplicam pela cidade. A Galeria Ouro Fino se reinventa a cada estação, a Galeria do Rock, já é de todos os estilos e gostos e cada vez mais atrai pessoas com poder de consumo interessadas em micro marcas. Inciativas como a Endossa - a loja colaborativa - e a esquina dos estilistas na Rua Bela Cintra, também apontam para isso.

Há algo de novo no ar. Algo relacionado com a base da nossa estrutura econômica e social. Novas relações de mercado, de formas de criação e de compartilhamento de conteúdo. No futuro, a economia baseada na cultura e na criatividade, será a base da mais rica cidade do Brasil. São Paulo está ficando mais bonita.

fonte: http://www.overmundo.com.br/overblog/pib-da-criatividade

Postado por Rafael Cerqueira
Pessoal,
ao ler este texto, lembrei-me do texto que lemos do Certau.
Boa Leitura!
Rafael Cerqueira

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