segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

METROpólis

Comentário acerca do texto “Usos e consumos no metrô do Rio de Janeiro” de Janice Caiafa

Carolina Aparecida Ferreira de Melo
Vanessa Veiga de Oliveira

A linha amarela do metrô traz uma mensagem instituída. Tal como sinal de comando, aquele elemento nos impõe uma ordem disciplinar. Há claramente nessa modalidade de regulação um intento de diminuir os percalços da trajetória, em nome da proteção. No entanto, subvertendo sua própria lógica ao propor um desvio da atenção o traçado amarelo traz um novo tipo de instrução: o imperativo do consumo.

O site da empresa responsável pelo transporte metroviário do Rio de Janeiro, a MetroRio, divulga o espaço de publicidade realizado na linha amarela. A função, à princípio, da linha amarela é advertir os passageiros sobre o espaço de segurança na plataforma para que não ocorram acidentes.

Acompanhamos a degradação do usuário em cliente, os coletivos permanecem como serviço público essencial dada a necessidade de locomoção nos grandes centros urbanos, mas delegada ao capital privado, o que restringe sua dimensão como direito. O passageiro do metrô oscila entre a figura de cidadão e consumidor e sem saber de fato qual é o seu papel tende ao conformismo. Até porque, a mercantilização do espaço e dos equipamentos é uma forma de controle. É dessa maneira que Janice argumenta como a atitude comercial publicitária camufla o potencial de resistência, de experimentação, de comunicação e de sociabilidade no metrô. Os anúncios, que se sobrepõe aos signos da cidades, criam novas diretrizes e contextos de interação, apreensão e intervenção, um tanto menos democráticos, libertários e espontâneos.

O esvaziamento da viagem: é essa a conseqüência mais perversa que a autora aponta. Não que o metrô deixe de se compor como um meio social heterogêneo que permite o encontro com o estranho, a passagem por vizinhanças descontínuas e a fuga pelo exercício subjetivo.

“No metrô pode-se desenvolver essa dimensão criadora da viagem – que está no horizonte da experiência urbana – e se o fará sempre na medida em que o aspecto do controle possa recuar em prol do uso”.

O metrô, quando entendido como bem comum, oferece possibilidades participativas e dialógicas. Porém, o viés excessivamente economicista, constrange a ação porque espera um sujeito espectador e, portanto, passivo. A mudança, então, está no objetivo principal da utilização do metrô: ele deixa de ser mais um meio de transporte – ao qual todo cidadão tem direito – e passa a ser o lugar do clientelismo, do emprego maciço de campanhas publicitárias que estimulam o consumo.

“É preciso garantir a relação de compra e venda naquele momento e no futuro, fazendo o passageiro levar consigo também a melhor imagem da empresa. É para um cliente que é preciso se dirigir nesses termos”.

As campanhas publicitárias realizadas pelo MetroRio possuem dois objetivos. A primeira diz respeito à propagandas de terceiros, como o exemplo da linha amarela. A emprea MetroRio disponibiliza em seu site todas as informações necessárias sobre o perfil do passageiro, a “audiência diária”(termo que a empresa usa para falar do número de usuários em média, que utilizam o metrô por dia) e sobre os tipos de propagandas que podem ser alocadas nos trens e plataformas. O outro tipo de campanha são as propagandas institucionais da própria empresa MetroRio. As campanhas de transporte se valem de todo o imaginário que circunda o metrô como símbolo de progresso, para reforçar a idéia de rapidez, segurança e eficiência. Contraditoriamente, é a superlotação que garante o sucesso do negócio. Tanto pela redução dos custos, como por tornar proveitosa a presença dos passageiros. É assim que o metrô se oferece como lugar de visibilidade e estende o consumo para além da sua própria estação.


http://www.ukdesign.com.br/video/portugues.htm

Vídeo institucional do MetroRio. A campanha institucional reafirma o imaginário urbano relacionado ao metrô.

A dubiedade do sistema de transporte parece conveniente a quem detém a propriedade e a gestão do transporte. Nesse caso, a aliança que se almeja não é política é uma parceria comercial efêmera entre um que compra e outro que vende.

Link para o site do MetroRio: http://www.metrorio.com.br/canais.asp
Link para o site do MetroBH: http://www.metrobh.gov.br/principal.asp


EM TEMPO
Começou no dia 29 de novembro, sexta-feira, a terceira edição do festival “BH Music Station”. Após sete anos, o projeto volta com eventos durante quatro sábados seguidos (29/11 e 6, 13 e 20/12) nas estações do metrô de Belo Horizonte. Funciona assim: a partir das 23h45, as estações Central, Santa Inês, Minas Shopping e Vilarinho se transformam simultaneamente em palcos para renomadas bandas nacionais, além de perfomances, esquetes teatrais, poesia e circo. A entrada para o evento é somente pela estação Central e a expectativa é de um público de 4 mil pessoas. De acordo com site do BH Music Station, “o projeto foi retomado pelos produtores Márcia Ribeiro, Gegê Lara e Dênio Albertini, com patrocínio das empresas de telefonia Claro e Embratel. A intenção é de que o evento entre para o calendário nacional das produções culturais”.

O que Janice Caiafa acharia do projeto? Bom, o novo uso do metrô tem um preço caro. Os ingressos são limitados por noite e custam 30 reais a meia entrada e 60 reais o ingresso inteiro. Eles são vendidos nas lojas Claro do BH Shopping, Shopping Cidade, Itaú Power Shopping, Minas Shopping e Loja Claro da Savassi. Um ingresso dá direito a assistir aos quatro shows realizados por noite. Veja abaixo a programação do evento para os próximos três sábados.

6 de dezembro (sábado)
* Palco Santa Inês
00h15 – Fino Coletivo
* Palco Minas Shopping
00h15 – The Dead Rocks
* Palco Vilarinho
00h30 – Teatro Mágico
2h – BossaCucaNova

13 de dezembro (sábado)
* Palco Santa Inês
00h15 – Marina De La Riva
* Palco Minas Shopping
00h15 – Tattá Spalla
* Palco Vilarinho
00h30 – Vander Lee e Lokua Kanza
2h – Tom Zé

20 de dezembro (sábado)
* Palco Santa Inês
00h15 – Marina Machado
* Palco Minas Shopping
00h15 – Erika Machado
* Palco Vilarinho
00h30 – Ana Cañas
2h – Móveis Coloniais de Acaju
3h30 – Jack Tequila



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