terça-feira, 30 de setembro de 2008
Bom, acho que podemos nos reter nas exigências apontadas pelo autor para a realização de um trabalho de campo etnográfico dentro de nossa própria sociedade. A primeira delas não nos causa problemas, já que a própria disciplina nos encaminhou dessa forma: o local de campo deve ser público ou semipúblico, um lugar comum. A segunda é que a observação que vamos fazer seja sistematizável, e a terceira, um pouco mais complicada no nosso caso, implica no constante trabalho de freqüentar o “campo” e ler o “campo” intercaladamente, recorrendo sempre à teoria.
No final da aula escutei a Milene dizer “vocês têm que saber o que vão olhar!”. O que isso tem a ver com as exigências acima? Tudo! Todo saber é relevante para a Antropologia. Isso quer dizer que qualquer prática humana (já que nosso objeto de estudo são os seres humanos) pode ser objeto da Antropologia, acertada uma maneira de observar e de descrever essa observação. Quando se vai a campo tem-se um problema de pesquisa, uma hipótese, uma dúvida... algum interesse específico. Cada um de nós pode olhar para uma coisa específica na quita feira - para o trânsito, para os “homens que vivem abaixo da linha de pobreza”, para o comércio irregular - e o que cada um de nós vai trazer dessa experiência é o que cada um desses olhares filtrar.
O antropólogo Evans-Pritchard, num apêndice de um trabalho sobre os Azande, onde faz uma reflexão sobre o “fazer campo”, escreve: “Na ciência, como na vida, só se acha o que se procura. Não se pode ter as respostas quando não se sabe quais são as perguntas” (EVANS-PRITCHARD, ?: 243). Gosto muito quando ele diz ser inútil sair para o campo às cegas, e necessário “saber exatamente o que se quer saber” (idem: 244), mas logo em seguida, alerta para os imponderáveis da pesquisa e relata sua experiência:
“Eu não tinha interesse por bruxaria quando fui para o país zande, mas os Azande tinham; e assim tive de me deixar guiar por eles[1]. Não me interessava particularmente por vacas quando fui aos Nuer, mas os Nuer, sim; e assim tive aos poucos, querendo ou não, que me tornar um especialista em gado” (idem: 245).
Eu quis contar isso pra vocês porque “fazer campo” é, sim, buscar respostas, mas é também se deixar tocar por aquilo que pulsa além de nossos interesses. E, voltando às exigências – eu já havia me esquecido delas – nas ruas do centro de Belo Horizonte encontraremos muitas possibilidades de sensações e de registros, e para que alguma informação seja posteriormente sistematizada (lembrando dos nossos limites, especialmente TEMPO), principalmente porque os lugares comuns “vão revelar-se à análise terrivelmente complexos” (?[2], ?: 133), seria legal manter-mos algum foco – naturalmente de maneira flexível à bruxaria dos Azande e às vacas dos Nuer. O que vocês acham?
Por último, sobre a terceira exigência de ir-e-vir da prática à teoria, já que não vamos à prática tantas vezes quanto recomendado pela etnografia, devemos nos orientar nessa saída única pelo centro, por tudo aquilo que discutimos em sala até agora, ressaltando que o que se traz de um estudo de campo depende daquilo que se leva para ele.
Abraços e até quinta!
Isadora.
[1] Detalhe: para quem não se interessava por bruxos e porções mágicas alguma coisa mudou: o nome desse livro é “Bruxaria, Oráculos e Magia entre os Azande”.
[2] Falta indexação do texto “Descer ao campo”.
terça-feira, 23 de setembro de 2008
IPHAN - Grandes Cidades
envio o enderço de alguns artigos produzidos pela revista do IPHAN; trata-se do dossiê Grandes Cidades.
Boa leitura!
Rafael Cerqueira
http://www.revista.iphan.gov.br/secao.php?id=1&ds=16
ps: não consegui colocar como link; não está aceitando. tentarei depois. quem quiser, tenha a liberdade de mudar.
Intervenção Urbana no Mercado Central
Abs,
Ana Flávia
Textualidade cênicas - Fábulas do agora
“ Fábulas do Agora” é uma intervenção urbana que acontece no Mercado Central de Belo Horizonte onde seres subversores da lógica dos contos de fadas misturam-se a imagens contemporâneas. Príncipes, bruxas e animais se entrelaçam em personagens híbridos, carregados de subjetividade.
Criação e concepção:
Movasse – Coletivo de Criação em Dança
Acompanhamento: Fernando Mencarelli, Nina Caetano e Antônio Araújo
Local: Mercado Central -Escada da rua Curiiba
11hs
Entrada franca
segunda-feira, 22 de setembro de 2008
Descer ao Campo - Yves Winkin
Como sugerido pelo próprio nome, o texto Descer ao campo parece de grande utilidade nesse nosso momento de “pré-saída à campo” pelas ruas do centro de Belo Horizonte. Como em uma espécie de manual, o autor propõe métodos que podem auxiliar estudantes, como nós, leigos no trabalho de pesquisa etnográfica, baseado na observação e análise do ambiente observado.
Mas, antes de começar a orientar um trabalho de campo, o autor esclarece de forma sucinta as modificações sofridas no modo de se conceber a etnografia. Segundo Winkin, a mesma passou por 3 revoluções: uma por volta de 1915-1920, em que o próprio estudioso passou a sair a campo, para coletar seus dados (antes era uma tarefa XX a outros); outra por volta de 1930-35, em que os antropólogos passam a olhar para dentro da própria cidade e país, ao invés de buscar estudar locais distantes; e, por fim, nos anos 50, em que os objetos de estudos extrapolaram apenas os pobres, os desajustados, os dominados, surgindo uma concepção de cultura, por Ward Goodenough, de que ela é tudo o que é preciso saber para ser membro, permitindo se fazer antropologia fora das ilhas. Dessa forma, chega-se, assim, a uma concepção da etnografia que permite que ela seja utilizada em diversos contextos e circunstâncias, inclusive no nosso trabalho de campo, realizado sob um viés da comunicação social: a etnografia se tornou uma arte de ver, arte de ser, arte de escrever. E é a partir desse conceito, que o autor continua seu texto, agora pronto para dar as primeiras coordenadas para um trabalho de campo.
Winkin elabora uma espécie de manual, com certas regrinhas que podem auxiliar e facilitar a saída de campo. No momento da escolha do local, por exemplo, ele sugere que o mesmo seja público ou semi-público, que lhe permita ir e vir no plano das relações com os outros, do psicológico e do físico, que sejam confortáveis, simples e não perigosos, etc. Fica mais fácil escolher um local acessível, em que você pode ir e voltar quando quiser, de maneira fácil e confortável. Além disso, ele também sugere que observação possa ser sistematizada, permitindo sua transcrição através de mapas espaciais e temporais. Dessa forma, podemos determinar fronteiras, das quais já discutimos em aulas anteriores, inclusive na passada, através do texto A guerra dos lugares (o qual também foi feito através de trabalho de campo, o qual, cabe analisa-lo, agora, com um olhar sobre seu modo de produção). Voltar sempre à teoria também se mostra de suma importância no trabalho de campo, porque a teoria vai levar a ver mais e mais longe (p.135). Ele cita exemplos sobre essa utilização através de teorias de Goffman, as quais nos fazem perceber que, de fato, recorrer à teoria transforma nosso olhar, levando-nos a ver o ambiente de forma mais vasta e diferente, ampliando nosso horizonte de observação.
Outro fator essencial para um trabalho de campo é o uso do diário. Através dele, o pesquisador registra suas observações ao longo de toda a saída, bem como suas reflexões, leituras e até frustrações, para futuras releituras e sucessivos comentários. Dessa forma, as anotações possibilitarão a criação de configurações, que surgem de regularidades notadas ao longo da pesquisa, que permitem a formulação de códigos. Para o autor, ainda que se possa usar outros métodos de registro, como fotografias e gravadores, a anotação, porém, mostra-se a mais eficaz no momento da observação, a qual para ele, deve ser feita sempre às claras quanto aos objetivos. Disfarces ou observação escondida, jamais!
E, para não nos desanimar, Winkin aponta dificuldades, enfrentadas por quase todos aqueles que iniciam a prática de trabalho de campo, como a impressão de que não conseguimos enxergar nada no local, ou de se sentir estranho e inconfortável no mesmo, ou a si mesmos. Ou seja, são fatores que nos levam a fugir do trabalho. Mas ele aconselha: dêem conta dos mesmos, tranqüilizem-se e encarem-nos. Seja escrevendo as angústias no diário, seja fazendo mapas e desenhos do local, seja, até, escrevendo cartas ao colega.
Aliás, escrever. Esse ato ganhou importância e atenção a partir dos anos 80 como um aspecto de suma importância no processo de pesquisa antropológica. A revolução textualista, como foi chamada, fez com que a idéia de que os dados falam por si mesmo, mudassem para a concepção de que o texto pode facilitar ou não o modo de apreensão da pesquisa.
E, para finalizar o texto, o autor expõe certas questões. Entre elas, a forma com que o campo deve ser tratado – como um local onde observamos a comunicação, ou um contexto sem o qual a mesma nem existiria? De forma operacional, ele sugere que consideremos o lugar como um reservatório de comportamentos, no qual, pouco a pouco, surgirá certa ordem interacional, a qual, também se mostrará da ordem social. Outra questão, à qual a reposta positiva constitui o fundamento do trabalho etnográfico, é a de que o universal pode estar no coração do particular. Para ele, As regularidades extraídas de um conjunto particular, acarretam em regras que extrapolam para o social. Afinal, essas quanto mais precisos somos, mais estamos em condições de generalizar. Fato no qual também acredito. São a partir de pequenos ambientes, os quais, afinal, constituem e formam a sociedade, que conseguiremos entender e analisar o aspecto geral da mesma. Caso contrário, um estudo seria meramente impossível de ser realizado, diante da grandeza e complexidade de sua natureza.
Descer ao Campo - Yves Winkin
Yves Winkin
Ler o texto “Descer ao Campo” é uma verdadeira preparação para o trabalho de campo que está por vir. Winkin nos mostra que ansiedades, frustrações e outras dificuldades são normais em tal empreitada e que, no entanto, elas não devem nos paralisar. Ao contrário, com uma dose de paciência e persistência, o trabalho etnográfico pode ser uma tarefa extremamente prazerosa. Nos dois parágrafos a seguir, sintetizo os principais pontos abordados pelo texto e faço, ao final, um ‘diálogo’ com nosso futuro trabalho de campo.
Após passar por suas “revoluções” o termo etnografia pode então ser compreendido como a junção de três momentos principais, segundo Winkin: saber ver, saber estar com e saber escrever. O primeiro momento consiste em observar e se deixar ver enquanto observador. Esta atitude passa não só por uma questão ética de respeito aos que estão sendo observados, mas também retira a ilusão de que a “observação escondida” minimiza a interferência nas ações do observado. Ora, mais cedo ou mais tarde o pesquisador “disfarçado” poderia ser descoberto e, aí sim, veria seu trabalho “desmoronar”. O segundo momento passa pela interação, a qual não precisa, segundo o autor, principiar-se já, de cara, de uma maneira formal. Ao contrário, uma primeira ocasião de troca de experiências com o grupo observado é fundamental até mesmo para estabelecer-se um vínculo de confiança, possibilitando que as observações posteriores possam ser feitas sem maiores empecilhos. O terceiro momento – saber escrever – já deve estar presente ao longo dos outros dois. Winkin sugere as anotações tanto das observações feitas em um primeiro momento, quanto das experiências vivenciadas no segundo. Para tanto, recomenda a utilização de um instrumento de pesquisa essencial: o diário. De fato, nele serão anotadas não só observações técnicas, reflexivas e analíticas, mas também observações emotivas. “O diário deve ser o lugar do corpo-a-corpo consigo mesmos, ante o mundo social estudado” (p.138) e ele será o instrumento decisivo na demarcação dos patterns ou regularidades observadas ao longo da pesquisa. E será justamente este material que facilitará o trabalho final de escrita, tão caro à compreensão do trabalho do etnógrafo por parte daqueles que o lerem.
Pensando em nosso trabalho de campo já dá para imaginar a importância que terá o nosso instrumento diário, a despeito de outras ferramentas que utilizarmos (máquina fotográfica, gravador, etc.). De fato, como vimos em Certeau, o caminhar pela cidade como enunciação escreve uma forma na cidade e no corpo do observador. Os arrebatamentos que este sofre na cidade “refletem-se” em seu corpo de alguma forma. Imaginem então, nesta nossa futura caminhada pelo Hipercentro, quantas sensações, quantos arrebatamentos terão de ser retratados e quão mais fácil será esta tarefa se a realizarmos através de anotações espontâneas (o que, se feito somente pelas imagens, talvez não captasse as sensações em sua essência). Então, reforço o que diz Winkin: tenham como companheiros os “diários etnográficos” para o registro das experiências singulares e intransferíveis de caminhar pela cidade.
Carla Gomes Pedrosa
mapa hipercentro de Belo Horizonte
Olás,
Pra lembrar vocês os limites do hipercentro são:
Afonso Pena com Timbiras, Parque Municipal, Viaduto Santa Tereza, Rua Sapucaí, Viaduto Floresta, Avenida Contorno, Avenida Bias Fortes, Avenida Alvares Cabral, Rua Timbiras e fecha no encontro com a Afonso Pena, ok?
Acima vai o mapa; vamos dar uma olhada nele pra decidirmos nossos percursos na aula que vem, quando vamos discutir o texto de Yves Winkin, "Descer ao campo" e nossa saída.
Os jovens e a cidade
Observatório da Juventude promove debate sobre os jovens e a cidade
Para refletir sobre as possibilidades e limites do espaço urbano na sua relação com os jovens, o Observatório da Juventude da UFMG realiza na próxima quarta, dia 24, debate sobre “Juventudes e cidade: usos e mobilidade urbana”. A palestra será de Paulo César Rodrigues Carrano, doutor em Educação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), que atua através do Observatório Jovem, e o debate será conduzido pelo vereador em Belo Horizonte Arnaldo Godoy.
O evento vai acontecer no auditório da Faculdade Dom Helder Câmara (rua Álvares Maciel, 628), com início às 19h e entrada franca. Os participantes receberão certificado. Outras informações pelo telefone 3409-6188 e pelo endereço observajuventudeufmg@yahoo.com.br.
Formação para projetos sociais
Coordenado pelos professores Juarez Dayrell, Nilma Gomes e Geraldo Leão, o Observatório da Juventude da UFMG é um programa de ensino, pesquisa e extensão da Faculdade de Educação que se insere no contexto das políticas de ações afirmativas. Seus eixos são a condição juvenil, as politicas públicas e as práticas culturais e ações coletivas da juventude, entre outros. Entre seus projetos de 2008, destacam-se cursos de formação de professores que atuam com jovens e de formação de jovens oficineiros que atuam em projetos sociais na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
Gestão cultural na e para a cidade
vai um texto com uma temática muito interesse.
Bom proveito!
http://www.culturaemercado.com.br/wp-content/uploads/2008/09/gestaoculturalnaeparaacidade.pdf
Postado por Rafael Cerqueira
sexta-feira, 12 de setembro de 2008
Comunicação e Etnografia
Durante as últimas duas semanas venho lendo o livro A Sociedade do Sonho: Comunicação, Cultura e Consumo, do comunicólogo e antropólogo carioca, Everardo Rocha. Quem ainda não leu esse autor, não perca tempo! Um dos poucos pensadores contemporâneos da Comunicação que merecem destaque.
Pois bem, o livro – uma adaptação da sua tese de doutorado em Antropologia Social – faz, entre outras coisas, uma revisão crítica de algumas Teorias da Comunicação, dentre elas a que diz respeito à Indústria Cultural e propõe, posteriormente, uma nova forma de olhar e discutir a Cultura de Massa, utilizando-se da Etnografia para traçar um novo paradigma no campo comunicacional.
Esse paradigma, que apropria-se da Antropologia Social, discute a relação existente entre o mundo real e o mundo da ficção, representado pelos media. Rocha sustenta que há um intercâmbio entre a sociedade real, fruto das transformações modernas-capitalistas, e a sociedade ficcional, de dentro dos media, produzida por essa gama de indivíduos reais. Para ilustrar sua tese, ele cita o filme de Woody Allen, A Rosa Púrpura do Cairo, em que pessoas reais entram na tela do cinema (interagindo com os personagens e todo esse universo mágico da Indústria Cultural) e personagens saem da tela e vivenciam o mundo que os criaram.
Pensando nisso e revisitando o documentário sobre anti-publicidade creio que haja aí uma relação interessante e dentro da proposta da disciplina.
No post da Valquíria, ela diz - e acredito ser este um pensamento compartilhado por várias outras pesssoas, incluindo estudiosos e pesquisadores - que nas expressões de intervenção urbana a cidade serve como suporte para a comunicação, logo, como um media, mesmo que não tenha sido de fato pensada para esse fim – por mais que a publicidade possa nos mostrar o contrário.
Em um ato de descontentamento com esse universo consumista - nas palavras daqueles que praticam a anti-publicidade - representado e propagandeado pela publicidade, tais pessoas tentam subverter/inverter o sentido original das peças, ou como forma de protesto ou simplesmente como diversão (esse foi um caso que eu percebi, ao menos a partir dos fracos argumentos usados pelos entrevistados como forma de justificar seus atos). Nesse contexto nota-se um diálogo entre o mundo real e o mundo virtual (do mágico, da propaganda, do desejo, do sonho) tanto na questão da produção da peça publicitária em si, que faz uso dos anseios do mundo real para construir o mundo dos anúncios, tanto no que diz respeito ao ato dos intervencionistas frente à peça, descontentes com a ideologia publicitária, que julgam ser maléfica à sociedade.
Um outro exemplo pertinente diz respeito ao aviso da BHTrans, coberto por um plástico e colocado em um orelhão. Por mais que pareça um ato normal, eu o vejo como um ato intencional. A BHTrans poderia muito bem ter feito um cartaz sério e o colocado em um local mais “tradicional”. Ao meu ver, a empresa utilizou-se dos mesmos instrumentos dos intervencionistas para chamar mais atenção para a sua peça específica. A empresa deve entender que, cada vez mais, as intervenções urbanas carregam um papel significativo no que diz respeito à comunicação urbana, principalmente entre a camada mais baixa da população (mas não só ela). Ela pode muito bem ter percebido que fazendo uso desse tipo de ação, sua informação atingiria um maior número de pessoas – o que era sua intenção. Assim, a BHTrans (sociedade real) apropria-se das manifestações de intervenção urbana (sociedade virtual) para produzir uma nova sociedade ficcional, que irá dialogar com a sociedade real, que posteriormente vai se apropriar desse ficcção para criar uma nova ficção e assim ad infinitum.
É possível, portanto, entender o quão importante é um estudo da comunicação ( e principalmente da Indústria Cultural) que leve em consideração não apenas o político, o econômico e o moral (como faziam Adorno, os apocalípticos, os integrados e tantos outros), mas também aquilo que os produtores e os consumidores têm a dizer. Afinal de contas, são eles quem fazem a comunicação.
PS. Deixo também um link de um site de arquitetura, urbanismo e fotografia, que traz inúmeras fotos de Belo Horizonte e de diversas outras cidades brasileiras e estrangeiras. E outro link para as fotos do artista Julian Beever, que faz grafittis em 3D.
Link do site: http://www.skyscrapercity.com/
Link do fórum brasileiro: http://www.skyscrapercity.com/forumdisplay.php?s=f741639fa0bc1d3b53d92181a5367eec&f=272
Link das fotos de Belo Horizonte: http://www.skyscrapercity.com/showpost.php?p=21872405&postcount=5
Julian Beever: http://users.skynet.be/J.Beever/pave.htm
Afonso Brazolino
Consultor da Unesco discute paisagem cultural na Escola de Arquitetura
Ramon Gutierrez, professor do Centro de Documentación de Arquitectura Latinoamericana (Cedodal) de Buenos Aires e consultor da Unesco, apresenta nesta sexta-feira, 12, na Escola de Arquitetura da UFMG, a conferência A cidade como paisagem cultural. O caso de Buenos Aires. O evento terá início às 19h, na sala 201, com entrada franca.
Um dos maiores especialistas em arquitetura na América Latina, Ramon Gutierrez tem longa atuação na área acadêmica e da preservação do patrimônio. Ele pretende discutir o conceito contemporâneo de paisagem cultural, hoje amplamente utilizado pela Unesco, através do caso específico da candidatura de Buenos Aires a patrimônio da humanidade, que se utiliza deste conceito como fundamentação.
A conferência é promovida pelo Grupo de Pesquisa Conservação e Revitalização Urbana e Arquitetônica, com apoio da Especialização em Revitalização Urbana e Arquitetônica e do Mestrado em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável (MACPS).
A Escola de Arquitetura da UFMG fica na rua Paraíba, 697, Funcionários, em Belo Horizonte. Outras informações pelo telefone (31) 8744-1504, com Arlete Soares.
fonte: http://www.ufmg.br/online/arquivos/009726.shtml
Postado por Rafael Cerqueira
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
Exposição "O olhar vazio"
BH está bombando de coisas sobre a cidade!
"Ao contrário, viver em uma grande cidade não implica dissolver-se na massa e no anonimato. A violência e a insegurança pública, a impossibilidade de abranger a cidade (quem conhece todos os bairros de uma capital?) levam a procurar na intimidade doméstica, em encontros confiávies, formas seletivas de sociabilidade. Os grupos populares saem pouco de seus espaços, periféricos ou centrais; os setores médios e altos multiplicam as grades nas janelas, fecham e privatizam ruas do bairro" (trecho retirado do texto: CANCLINI, Nestor Garcia. Culturas Hibridas. Estratégias para entrar e sair da modernidade, pág.286)
O olhar vazio
Belo Horizonte, setembro de 2008 – A solidão e a falta de comunicação, retratadas em um visual preto e branco, com imagens peculiares, são características fundamentais da exposição “Solidão Urbana”, da artista plástica Mônica Chein, que está em cartaz até 06 de outubro, na Casa de Contos. Sob curadoria de Glauco Moraes, a mostra traz cerca de 20 telas em formatos variados que expressam as emoções percebidas diariamente pela pintora.
A idéia de distância é fundamental para entender o trabalho da artista que começou a ser desenvolvido em 2007 e que representa uma característica no momento atual da sociedade, em uma visão particular. “O conceito dessa exposição surgiu a partir de minhas observações no dia-a-dia das pessoas e a partir disso, fui criando. A gente não vê mais o outro e, com isso, acaba que não somos vistos também. Os olhos não se cruzam, as mãos não se estendem e o abraço, não se concretiza como um encontro”, afirma Mônica.
Seus quadros são feitos a partir da técnica mista, com mistura de pintura acrílica e carvão vegetal. Em seus desenhos, são expostas figuras sem mãos e rostos, em que seus olhares nunca se encontram. Apesar de estarem em um mesmo plano e juntas, ao mesmo tempo, elas estão só. De acordo com Glauco, “as obras não são tristes, apenas distantes, porém, com certa leveza, uma harmonia, como que se fosse orquestrada por algo. A ausência de cor torna ainda mais marcante essa solidão”.
Há mais de dez anos sem pintar, Mônica começou a praticar novamente essa atividade na Maison Escola de Arte, e, incentivada pelo curador de sua exposição, decidiu preparar essa mostra que representa a retomada de sua carreira. Com isso, Glauco Moraes apresenta seu trabalho no reconhecimento artístico de seus alunos, realizando exposições coletivas e individuais mensalmente, trazendo artistas renomados para exposições e lançando novos nomes na área artística.
Sobre a artista
Nascida em Barbacena, Mônica Chein começou a praticar seus dons artísticos em Juiz de Fora em 1982, município onde participou de diversos cursos que foram essenciais para sua carreira. A capital mineira também serviu de escola para a artista que teve como professores, ícones das artes, como Leo Brizola e Yara Tupinambá. Ela já realizou 11 exposições, coletivas e individuais nas duas cidades de Minas Gerais onde estudou. Hoje, Mônica está de volta à pintura e pretender não parar mais.
terça-feira, 2 de setembro de 2008
Stuart Hall
O texto do Hall “A centralidade da cultura: notas sobre as revoluções culturais do nosso tempo” está no site www.educacaoonline.pro.br.
Abraços,
Isadora.
segunda-feira, 1 de setembro de 2008
Diálogos Públicos (comentário)
No artigo de Milene, Diálogos Públicos no Centro de Belo Horizonte, percebi uma abordagem diferenciada em relação aos outros textos trabalhados até então na disciplina. Diferentemente de Culturas Híbridas, de Nestor Garcia Canclini, e de A invenção do Cotidiano, de Michel de Certeau, aqui os confrontos, as hibridações e os contatos culturais são materializados em um espaço real, delimitado e próximo: trata-se de um estudo de caso, que se situa no Hipercentro de Belo Horizonte. Assim, referências teóricas são retomadas e vários conceitos transportados para esse contexto específico e particularizado.
Durante a última aula, despertaram minha atenção as situações apontadas ao longo da apresentação da pesquisa: aquelas em que o tático e o estratégico se confundiam, em um processo conflitante e, por vezes, contraditório. Bem curioso o caso do “notificador” da Praça Sete que, embora faça um uso tático das paredes do Cine Brasil e dos jornais noticiosos (montando um novo periódico a partir de recortes e afixando-o em um local que, à princípio, não se destina a essa finalidade), critica outras práticas táticas (como as dos grafiteiros), sem reconhecer a si mesmo como alguém que procura as rupturas e exerce “a arte do fraco”. Outro exemplo que desperta interesse é o do informe da BHTrans, envolvido em um saco plástico e afixado em um orelhão: embora sua mensagem tivesse um caráter institucional, seu suporte e sua aplicação apropriaram-se de mecanismos táticos.
Depois da leitura do texto, me lembrei também das intervenções e dos diálogos públicos que se estabelecem na cidade, mas não à céu aberto e, sim, em ambientes internos de grande circulação de pessoas. Por exemplo, nos ônibus, nos quais muitas vezes é possível encontrar, gravadas nos bancos, reclamações sobre o preço da passagem, declarações de amor e assinaturas de sujeitos que por ali passaram. Outro espaço onde ocorre semelhante intercâmbio de mensagens e de experiências é o dos banheiros públicos, que não raramente apresentam mensagens escritas nas portas das cabines ou nos azulejos, grafadas com estilete, caneta esfereográfica ou hidrocor.
É interessante pensar, ainda, em como tais intervenções são vistas na esfera pública: são muitos os que têm uma percepção pejorativa dessas atitudes, colocando-as à margem; uma percepção que, de certa forma, insere-se na perspectiva da estratégia. Assim, stickers, grafites, lambe-lambes e pixações são, freqüentemente, vistos como elementos que “sujam” a cidade, desviando-a de seu planejamento e organização governamental. No entanto, como é o caso do “notificador” da Praça Sete, nem sempre esses cidadãos que desaprovam as táticas estão no lugar dos que planejam e traçam os percursos da estratégia. Ou, mais: nem sempre obedecem a tais normas, ainda que não tenham consciência de seus próprios desvios e condutas subversivas.
Valquíria Rabelo.
***
P.S.: Quem tem curiosidade em saber como se faz um stencil, existe um manual bem completo no orkut: o tópico para iniciantes, da comunidade STENCIL. Um membro de lá fez uma espécie de índice, que lista tópicos com instruções de como fazer stencil, em suas várias etapas.
Exposição Lírica Urbana Provisória


Há um tempinho tenho visto nas ruas da cidade as telas do artista Estêvão Machado. O trabalho foi entitulado de Lírica Urbana Provisória. As telas estão atualmente naqueles abrigos de ônibus e retratam pessoas anônimas, transeuntes e usuários do transporte coletivo de BH.
O projeto é composto por aproximadamente 30 telas em formato digital para exposição nos pontos de ônibus, especialmente equipados com caixas de som que tocarão música lírica brasileira. (Não ouvi a música, mas tudo bem).
Consigo enxergar, a princípio, dois tópicos que tangem o trabalho de Estêvão Machado. O primeiro é a questão do anonimato permitido pelas metrópoles, as pessoas "comuns" que raramente olhamos com atenção e que parecem partes iguais de uma massa de habitantes que atravessa a avenida. Outra questão tem a ver com o conceito de arte (e da cultura como algo além do acadêmico e erudito) : o objeto retratado na tela é o ordinário, as pessoas "comuns", o trânsito, o cotidiano, a cidade.
Mas qual será a leitura que as pessoas têm de seu próprio retrato exposto ali no ponto de ônibus? Será que elas acham que é arte? Afinal, o artista escreveu (ou inscreveu) a sua leitura pessoal de Belo Horizonte. Nessa matéria do site da Cemig, ele explica o objetivo do trabalho:
"Estevão Machado explica que o objetivo da mostra é retratar a população brasileira por meio de flagrantes dos grandes centros urbanos, pintados em telas a óleo de grande formato. O pintor observa que pretende 'proporcionar um questionamento acerca de nossa identidade'.
Machado acrescenta, ainda, que busca a 'discussão sobre a ocupação do espaço público pela cultura de massa da sociedade de consumo e pelo poder econômico das leis de mercado'. 'Com uma proposta ousada e inovadora, o projeto visa levar a possibilidade de fruição estética e reflexão a setores da população que não usufruem normalmente de manifestações artísticas', destaca Machado."
Apesar de eu ter adorado o resultado visual do trabalho de Estêvão Machado, coloquei a última frase do artista em negrito porque achei que expressa um conceito de arte muito acadêmico e quase infeliz.