segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Descer ao Campo - Yves Winkin

Descer ao Campo
Yves Winkin


Ler o texto “Descer ao Campo” é uma verdadeira preparação para o trabalho de campo que está por vir. Winkin nos mostra que ansiedades, frustrações e outras dificuldades são normais em tal empreitada e que, no entanto, elas não devem nos paralisar. Ao contrário, com uma dose de paciência e persistência, o trabalho etnográfico pode ser uma tarefa extremamente prazerosa. Nos dois parágrafos a seguir, sintetizo os principais pontos abordados pelo texto e faço, ao final, um ‘diálogo’ com nosso futuro trabalho de campo.
Após passar por suas “revoluções” o termo etnografia pode então ser compreendido como a junção de três momentos principais, segundo Winkin: saber ver, saber estar com e saber escrever. O primeiro momento consiste em observar e se deixar ver enquanto observador. Esta atitude passa não só por uma questão ética de respeito aos que estão sendo observados, mas também retira a ilusão de que a “observação escondida” minimiza a interferência nas ações do observado. Ora, mais cedo ou mais tarde o pesquisador “disfarçado” poderia ser descoberto e, aí sim, veria seu trabalho “desmoronar”. O segundo momento passa pela interação, a qual não precisa, segundo o autor, principiar-se já, de cara, de uma maneira formal. Ao contrário, uma primeira ocasião de troca de experiências com o grupo observado é fundamental até mesmo para estabelecer-se um vínculo de confiança, possibilitando que as observações posteriores possam ser feitas sem maiores empecilhos. O terceiro momento – saber escrever – já deve estar presente ao longo dos outros dois. Winkin sugere as anotações tanto das observações feitas em um primeiro momento, quanto das experiências vivenciadas no segundo. Para tanto, recomenda a utilização de um instrumento de pesquisa essencial: o diário. De fato, nele serão anotadas não só observações técnicas, reflexivas e analíticas, mas também observações emotivas. “O diário deve ser o lugar do corpo-a-corpo consigo mesmos, ante o mundo social estudado” (p.138) e ele será o instrumento decisivo na demarcação dos patterns ou regularidades observadas ao longo da pesquisa. E será justamente este material que facilitará o trabalho final de escrita, tão caro à compreensão do trabalho do etnógrafo por parte daqueles que o lerem.
Pensando em nosso trabalho de campo já dá para imaginar a importância que terá o nosso instrumento diário, a despeito de outras ferramentas que utilizarmos (máquina fotográfica, gravador, etc.). De fato, como vimos em Certeau, o caminhar pela cidade como enunciação escreve uma forma na cidade e no corpo do observador. Os arrebatamentos que este sofre na cidade “refletem-se” em seu corpo de alguma forma. Imaginem então, nesta nossa futura caminhada pelo Hipercentro, quantas sensações, quantos arrebatamentos terão de ser retratados e quão mais fácil será esta tarefa se a realizarmos através de anotações espontâneas (o que, se feito somente pelas imagens, talvez não captasse as sensações em sua essência). Então, reforço o que diz Winkin: tenham como companheiros os “diários etnográficos” para o registro das experiências singulares e intransferíveis de caminhar pela cidade.

Carla Gomes Pedrosa

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