No artigo de Milene, Diálogos Públicos no Centro de Belo Horizonte, percebi uma abordagem diferenciada em relação aos outros textos trabalhados até então na disciplina. Diferentemente de Culturas Híbridas, de Nestor Garcia Canclini, e de A invenção do Cotidiano, de Michel de Certeau, aqui os confrontos, as hibridações e os contatos culturais são materializados em um espaço real, delimitado e próximo: trata-se de um estudo de caso, que se situa no Hipercentro de Belo Horizonte. Assim, referências teóricas são retomadas e vários conceitos transportados para esse contexto específico e particularizado.
Durante a última aula, despertaram minha atenção as situações apontadas ao longo da apresentação da pesquisa: aquelas em que o tático e o estratégico se confundiam, em um processo conflitante e, por vezes, contraditório. Bem curioso o caso do “notificador” da Praça Sete que, embora faça um uso tático das paredes do Cine Brasil e dos jornais noticiosos (montando um novo periódico a partir de recortes e afixando-o em um local que, à princípio, não se destina a essa finalidade), critica outras práticas táticas (como as dos grafiteiros), sem reconhecer a si mesmo como alguém que procura as rupturas e exerce “a arte do fraco”. Outro exemplo que desperta interesse é o do informe da BHTrans, envolvido em um saco plástico e afixado em um orelhão: embora sua mensagem tivesse um caráter institucional, seu suporte e sua aplicação apropriaram-se de mecanismos táticos.
Depois da leitura do texto, me lembrei também das intervenções e dos diálogos públicos que se estabelecem na cidade, mas não à céu aberto e, sim, em ambientes internos de grande circulação de pessoas. Por exemplo, nos ônibus, nos quais muitas vezes é possível encontrar, gravadas nos bancos, reclamações sobre o preço da passagem, declarações de amor e assinaturas de sujeitos que por ali passaram. Outro espaço onde ocorre semelhante intercâmbio de mensagens e de experiências é o dos banheiros públicos, que não raramente apresentam mensagens escritas nas portas das cabines ou nos azulejos, grafadas com estilete, caneta esfereográfica ou hidrocor.
É interessante pensar, ainda, em como tais intervenções são vistas na esfera pública: são muitos os que têm uma percepção pejorativa dessas atitudes, colocando-as à margem; uma percepção que, de certa forma, insere-se na perspectiva da estratégia. Assim, stickers, grafites, lambe-lambes e pixações são, freqüentemente, vistos como elementos que “sujam” a cidade, desviando-a de seu planejamento e organização governamental. No entanto, como é o caso do “notificador” da Praça Sete, nem sempre esses cidadãos que desaprovam as táticas estão no lugar dos que planejam e traçam os percursos da estratégia. Ou, mais: nem sempre obedecem a tais normas, ainda que não tenham consciência de seus próprios desvios e condutas subversivas.
Valquíria Rabelo.
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P.S.: Quem tem curiosidade em saber como se faz um stencil, existe um manual bem completo no orkut: o tópico para iniciantes, da comunidade STENCIL. Um membro de lá fez uma espécie de índice, que lista tópicos com instruções de como fazer stencil, em suas várias etapas.
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