sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Comunicação e Etnografia

Durante as últimas duas semanas venho lendo o livro A Sociedade do Sonho: Comunicação, Cultura e Consumo, do comunicólogo e antropólogo carioca, Everardo Rocha. Quem ainda não leu esse autor, não perca tempo! Um dos poucos pensadores contemporâneos da Comunicação que merecem destaque.

Pois bem, o livro – uma adaptação da sua tese de doutorado em Antropologia Social – faz, entre outras coisas, uma revisão crítica de algumas Teorias da Comunicação, dentre elas a que diz respeito à Indústria Cultural e propõe, posteriormente, uma nova forma de olhar e discutir a Cultura de Massa, utilizando-se da Etnografia para traçar um novo paradigma no campo comunicacional.

Esse paradigma, que apropria-se da Antropologia Social, discute a relação existente entre o mundo real e o mundo da ficção, representado pelos media. Rocha sustenta que há um intercâmbio entre a sociedade real, fruto das transformações modernas-capitalistas, e a sociedade ficcional, de dentro dos media, produzida por essa gama de indivíduos reais. Para ilustrar sua tese, ele cita o filme de Woody Allen, A Rosa Púrpura do Cairo, em que pessoas reais entram na tela do cinema (interagindo com os personagens e todo esse universo mágico da Indústria Cultural) e personagens saem da tela e vivenciam o mundo que os criaram.

Pensando nisso e revisitando o documentário sobre anti-publicidade creio que haja aí uma relação interessante e dentro da proposta da disciplina.

No post da Valquíria, ela diz - e acredito ser este um pensamento compartilhado por várias outras pesssoas, incluindo estudiosos e pesquisadores - que nas expressões de intervenção urbana a cidade serve como suporte para a comunicação, logo, como um media, mesmo que não tenha sido de fato pensada para esse fim – por mais que a publicidade possa nos mostrar o contrário.

Em um ato de descontentamento com esse universo consumista - nas palavras daqueles que praticam a anti-publicidade - representado e propagandeado pela publicidade, tais pessoas tentam subverter/inverter o sentido original das peças, ou como forma de protesto ou simplesmente como diversão (esse foi um caso que eu percebi, ao menos a partir dos fracos argumentos usados pelos entrevistados como forma de justificar seus atos). Nesse contexto nota-se um diálogo entre o mundo real e o mundo virtual (do mágico, da propaganda, do desejo, do sonho) tanto na questão da produção da peça publicitária em si, que faz uso dos anseios do mundo real para construir o mundo dos anúncios, tanto no que diz respeito ao ato dos intervencionistas frente à peça, descontentes com a ideologia publicitária, que julgam ser maléfica à sociedade.

Um outro exemplo pertinente diz respeito ao aviso da BHTrans, coberto por um plástico e colocado em um orelhão. Por mais que pareça um ato normal, eu o vejo como um ato intencional. A BHTrans poderia muito bem ter feito um cartaz sério e o colocado em um local mais “tradicional”. Ao meu ver, a empresa utilizou-se dos mesmos instrumentos dos intervencionistas para chamar mais atenção para a sua peça específica. A empresa deve entender que, cada vez mais, as intervenções urbanas carregam um papel significativo no que diz respeito à comunicação urbana, principalmente entre a camada mais baixa da população (mas não só ela). Ela pode muito bem ter percebido que fazendo uso desse tipo de ação, sua informação atingiria um maior número de pessoas – o que era sua intenção. Assim, a BHTrans (sociedade real) apropria-se das manifestações de intervenção urbana (sociedade virtual) para produzir uma nova sociedade ficcional, que irá dialogar com a sociedade real, que posteriormente vai se apropriar desse ficcção para criar uma nova ficção e assim ad infinitum.

É possível, portanto, entender o quão importante é um estudo da comunicação ( e principalmente da Indústria Cultural) que leve em consideração não apenas o político, o econômico e o moral (como faziam Adorno, os apocalípticos, os integrados e tantos outros), mas também aquilo que os produtores e os consumidores têm a dizer. Afinal de contas, são eles quem fazem a comunicação.

PS. Deixo também um link de um site de arquitetura, urbanismo e fotografia, que traz inúmeras fotos de Belo Horizonte e de diversas outras cidades brasileiras e estrangeiras. E outro link para as fotos do artista Julian Beever, que faz grafittis em 3D.

Link do site: http://www.skyscrapercity.com/


Link do fórum brasileiro: http://www.skyscrapercity.com/forumdisplay.php?s=f741639fa0bc1d3b53d92181a5367eec&f=272


Link das fotos de Belo Horizonte: http://www.skyscrapercity.com/showpost.php?p=21872405&postcount=5

Julian Beever: http://users.skynet.be/J.Beever/pave.htm


Afonso Brazolino

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