A efemeridade das relações que se constrem no centro versos as relações que passam pelo centro de Belo Horizonte
Quando cheguei à praça sete e comecei a pensar no que escolher para observar fiquei um tanto confusa com a profusão de acontecimentos. Enquanto pensava observei um contraponto comum. Quem passa pelo centro e quem está no centro. Porém, uma observação deste tipo é algo simples faltava um componente. Foi ao reparar um casal que dava andava apressado de mãos dadas e, um pouco antes um grupo de artistas de circo no sinal da rua Tamoios esquina com Afonso Pena, que decidi um foco. (foto1 e 2)
foto 2
Resolvi lançar um olhar diferenciado sobre as relações interpessoias e o tempo no centro da cidade. Ou melhor, na região do hipercentro percorrida pelo nosso grupo. O que procurei fazer – claro que de forma muito superficial dada a esta ser a primeira vez que atentava para o fato - foi perceber a diferença entre as pessoas que passam correndo pelo centro com pressa e as que estão no centro. Afinal, quando digo que estão isso engloba o trabalho, uma campanha política, uma tentativa de conseguir emprego, uma rotina de freqüentar o centro. Talvez esta seja a região da cidade com maior diversidade em termos dos objetivos que levam uma pessoa ao centro.
Este era o princípio do meu recorte. Um segundo ponto para completar o primeiro. A localização também interferiria? Nas minhas andanças pelo centro sempre tive uma impressão. A rua da Bahia no cruzamento com a Afonso Pena era um divisor social. É que acima da Afonso pena, temos Othon (hotel) e subindo a Bahia vamos em direção ao Bairro de Lourdes e à região da Savassi. Com isso observamos restaurantes e um comércio que se desenvolveu com muitos cafés/confeitarias. Nelas muitos executivos, professores, intelectuais, trabalhadores de bancos e escritórios da ragião. Mas enfim essa área não é o foco. Dessa vez me reteria nos quarteirões abaixo à Avenida. Logo, na primeira esquina em contraposição ao hotel temos, um restaurante bem simples, seguido de um buteco. Um local com pouca iluminação, homens bêbados as três da tarde e olhares tristes. Nos muros da rua muitos cartazes de propagandas de todo tipo sobrepostos. No final do quarteirão, o viaduto Santa Tereza. Nesta esquina pessoas apressadas, elas não perdem o ritmo olham para baixo, Se alguém para pedindo uma informação vão andando e falando numa ânsia em passar dali. Ao mesmo tempo, alguns homens sentados à escada de galeria que dá com no início do viaduto, fumam tranqüilos riem. São os moradores de rua. Descendo ainda mais percebo aquele é o lugar dos sem lugar, o quarteirão logo após a Avenida Afonso Pena.
Então, fixei meu olhar nas relações das pessoas no hipercentro e destaquei com cuidado um local sem dono e de medo para a maioria da população, esse trecho de dois quarteirões da rua da Bahia (entre o viaduto e a Afonso Pena).
Começando, por alto percebi que o número de relações que se estabelecem efêmeramente – pedido por informação, vendedores ambulantes, conversas em ponto de ônibus – são bem reduzidas no trecho dos dois quarteirões. As duradouras entre moradores de rua, freqüentadores do buteco são freqüentes e ao contrário do que acontece no resto do hipercentro são estáticas. Que quero dizer com estáticas? Bom as relações pessoais que observei na região percorrida se evidenciavam por mãos andando juntas, amigos ou parentes indo ou vindo de algum lugar, conversas durante a espera do ônibus, colegas de trabalho. No entanto, essas pessoas não exibem sua relação e intimidade apenas deixam um rastro que elas existem quando passam nas ruas. Ao contrário no trecho citado acima, o ritmo é menos intenso, o fluxo de pedestres também e quem está ali, mora, ou freqüenta regularmente e deixa mostrar-se em momentos de conversas demoradas, de cochilos no chão, de arrumação de carrinhos, simultânea à conversa com um amigo que faz a mesma coisa.
Como exemplo, três moradores de rua estavam conversando na escada da galeria que mencionei a pouco. Uma de nossas colegas tirou um foto, ela observava o vestuário das pessoas no hipercentro.O senhor fotografado logo veio tirar satisfações. A pergunta que fez: "E se eu tivesse fumando maconha? E se a polícia vê?". Depois de alguns segundo atentei que o significado daquela "conversa de rua" para nós, era outro bem diferente para ele. Uma intimidade invadida.
Continuando vou me ater um pouco agora no próximo local do percurso. Mas antes, uma ressalva. Apesar de termos partido da Praça Sete, pelas características que encontrei e por terminarmos o percurso lá também, resolvi deixa-la para o final.
O próximo local é a Avenida dos Andradas. O fluxo é intenso e interações acontecem em pontos de ônibus. A maioria é de relações sólidas – amigos, colegas, parentes – que conversam e ficam inquietos em esperar o transporte. Chegando à Praça da Estação, um ponto de parada. Pessoas apressadas, correndo para atravessar a rua existem, mas se contrapõe a estes dois homens, por exemplo, que sentam no banco para ler o jornal.(foto3). Um pequeno detalhe, estávamos no meio da tarde!
Este era o princípio do meu recorte. Um segundo ponto para completar o primeiro. A localização também interferiria? Nas minhas andanças pelo centro sempre tive uma impressão. A rua da Bahia no cruzamento com a Afonso Pena era um divisor social. É que acima da Afonso pena, temos Othon (hotel) e subindo a Bahia vamos em direção ao Bairro de Lourdes e à região da Savassi. Com isso observamos restaurantes e um comércio que se desenvolveu com muitos cafés/confeitarias. Nelas muitos executivos, professores, intelectuais, trabalhadores de bancos e escritórios da ragião. Mas enfim essa área não é o foco. Dessa vez me reteria nos quarteirões abaixo à Avenida. Logo, na primeira esquina em contraposição ao hotel temos, um restaurante bem simples, seguido de um buteco. Um local com pouca iluminação, homens bêbados as três da tarde e olhares tristes. Nos muros da rua muitos cartazes de propagandas de todo tipo sobrepostos. No final do quarteirão, o viaduto Santa Tereza. Nesta esquina pessoas apressadas, elas não perdem o ritmo olham para baixo, Se alguém para pedindo uma informação vão andando e falando numa ânsia em passar dali. Ao mesmo tempo, alguns homens sentados à escada de galeria que dá com no início do viaduto, fumam tranqüilos riem. São os moradores de rua. Descendo ainda mais percebo aquele é o lugar dos sem lugar, o quarteirão logo após a Avenida Afonso Pena.
Então, fixei meu olhar nas relações das pessoas no hipercentro e destaquei com cuidado um local sem dono e de medo para a maioria da população, esse trecho de dois quarteirões da rua da Bahia (entre o viaduto e a Afonso Pena).
Começando, por alto percebi que o número de relações que se estabelecem efêmeramente – pedido por informação, vendedores ambulantes, conversas em ponto de ônibus – são bem reduzidas no trecho dos dois quarteirões. As duradouras entre moradores de rua, freqüentadores do buteco são freqüentes e ao contrário do que acontece no resto do hipercentro são estáticas. Que quero dizer com estáticas? Bom as relações pessoais que observei na região percorrida se evidenciavam por mãos andando juntas, amigos ou parentes indo ou vindo de algum lugar, conversas durante a espera do ônibus, colegas de trabalho. No entanto, essas pessoas não exibem sua relação e intimidade apenas deixam um rastro que elas existem quando passam nas ruas. Ao contrário no trecho citado acima, o ritmo é menos intenso, o fluxo de pedestres também e quem está ali, mora, ou freqüenta regularmente e deixa mostrar-se em momentos de conversas demoradas, de cochilos no chão, de arrumação de carrinhos, simultânea à conversa com um amigo que faz a mesma coisa.
Como exemplo, três moradores de rua estavam conversando na escada da galeria que mencionei a pouco. Uma de nossas colegas tirou um foto, ela observava o vestuário das pessoas no hipercentro.O senhor fotografado logo veio tirar satisfações. A pergunta que fez: "E se eu tivesse fumando maconha? E se a polícia vê?". Depois de alguns segundo atentei que o significado daquela "conversa de rua" para nós, era outro bem diferente para ele. Uma intimidade invadida.
Continuando vou me ater um pouco agora no próximo local do percurso. Mas antes, uma ressalva. Apesar de termos partido da Praça Sete, pelas características que encontrei e por terminarmos o percurso lá também, resolvi deixa-la para o final.
O próximo local é a Avenida dos Andradas. O fluxo é intenso e interações acontecem em pontos de ônibus. A maioria é de relações sólidas – amigos, colegas, parentes – que conversam e ficam inquietos em esperar o transporte. Chegando à Praça da Estação, um ponto de parada. Pessoas apressadas, correndo para atravessar a rua existem, mas se contrapõe a estes dois homens, por exemplo, que sentam no banco para ler o jornal.(foto3). Um pequeno detalhe, estávamos no meio da tarde!
foto 3
Pareciam não reconhcer ou se importar com o mundo em volta. Interessante reparar que há dois anos atrás era raro ver alguém que não fosse morador de rua tão à vontade no espaço. A reforma feita pelo governo do estado foi acertada nesta localidade. Mas a mudança não foi tão radical, um senhor que conversa com um jardineiro não parece assim tão à vontade. Eles comentam algo sobre o jardim, depois parecem notar nossa presença e o senhor fica mais intrigado reparando no que fazemos. Ele está claramente de passagem. A conversa com o outro é efêmera, do instante. Talvez ele "faça uma horinha" esperando por outra pessoa. (Foto 5)
foto 5
Seguindo em frente chegamos à rua dos Guaicurus. É quase dispensável dizer o quão efêmeras são as relações neste trecho mais conhecido como “a zona” da cidade. Não consegui bem identificar o que se passa no local. Muitas pessoas no ponto de ônibus estavam claramente incomodadas, duas mulheres reprovavam, outras duas que conversavam, em trajes curtos e rindo sobre a noite passada. Em muitos estabelecimentos de portas pequenas, vários homens na porta todos pretendem fazer outra coisa e disfarçar uma fila, que siginifica a espera por uma mulher. As relações parecem fáceis e rápidas. Ninguém quer se demorar, nem deseja ser visto. As duas amigas que conversam não se importam, diferente de quase todo o resto. Elas, assim como os moradores de rua, têm ali o seu espaço. A rua acolhe mais, é mais privativa que o local onde moram. Uma delas comenta: “Menina não falei nada lá dentro porque sabe, a X ta sempre lá.”
Subindo na Guaicurus no quarteirão acima da Av. Santos Dumont, a rua dá lugar ao intenso comércio. Na esquina um açougue e na porta dois vendedores ambulantes tentam convencer quem passa a comprar alho. Um dos homens aborda, literalmente, quem passa pelo local.(foto 6). Esta relação já é bem próxima das muitas que se misturam na Av. Afonso Pena sentido Praça Sete. As pessoas passam rápido, quase sem parar e quem está vendendo tenta chamar a atenção, em um diálogo rápido de poucas palavras, no qual um olhar já diz muito.
foto 6
Na Praça Sete. O local é de mistura de funções, de pessoas, de ritmos. Seja no andar, na diversidade de sons, na pluralidade de serviços. Neste conjunto de características as relações são como as outras já citadas aqui. Pessoas pedindo informação, no ponto de ônibus, esperando por alguém, comprando algo, vendendo. Efêmeras! Mas é no mesmo espaço que estão os famosos “velhinhos do xadrez” ou os “senhores do café Nice”. Para eles o lugar é ponto de encontro de amigos, de prazer. Eles passam horas todos os dias nessa rotina, tão calmos e alheios. Em contraponto às interações de jovens que costumam passar correndo pela Praça Sete, eles vão à Praça Sete. (Foto 7)
foto 7
Depois de concluir o texto e o reler pensei na relação que guarda com o texto que lemos para a aula passada. Porém como fiz um relato preferi utilizar minhas percepções ao invés de buscar uma teoria. Seria muito arriscado analisar tais percepções por enquanto. Mas admito que a questão da desterritorialização e reterritorialização permeia todas as relações que pude observar, são poucos os casos que pareceram escapar ao significado do espaço para as pessoas.
Alexandra Duarte
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