A primeira pergunta que me veio à cabeça quando vi que o texto da próxima aula era de Wim Wenders foi: “o que um cineasta tem a dizer sobre comunicação e culturas urbanas?”
E a verdade é que tem muito. Wenders afirma ser o cinema uma manifestação surgida da vida urbana em cidades: ele nasce da cidade e dela trata, utilizando-se da linguagem universal da imagem.
A evolução da imagem e das grandes cidades
Assim como as grandes cidades, a imagem cinematográfica está em constante mudança e passa por inúmeras transformações. A evolução tecnológica trouxe uma idéia de proximidade entre imagem e expectador que só cresceu com o surgimento da televisão “live”; as evoluções mais recentes provocaram uma democratização total da produção e transmissão da imagem, chegando ao ponto em que todas as cópias compartilham da mesma qualidade. A imagem de referência, a “verdadeira”, se perdeu, assim como a credibilidade que ela carregava. Neste processo também se perderam as experiências que se compartilhava nos cinemas. Hoje o expectador se isola e experiencia a imagem sozinho, ou é bombardeado incessantemente pelas imagens no meio urbano em que vive. A capacidade das pessoas de ver e ignorar imagens em sucessão é muito maior, fazendo com que a imagem tenha que lutar por atenção em um espaço já saturado. A imagem que antes retratava, hoje quer vender.
A mesma triste evolução se nota nas nossas cidades. A cidade torna-se um local de relações comerciais, fazendo desaparecer as relações sociais no meio urbano. Tanto a cidade quanto o cinema desenvolveram um ritmo atordoante e complexo que estressa, provocando uma overdose de informação de imagens que acaba por cegar as pessoas. O desconforto causado por essa enxurrada de publicidade agressiva extermina tudo o que há de humano nos centros urbanos. Wenders afirma ainda que o homem tenta dominar a terra, enchendo-a de construções e formando as grandes cidades, mas ao mesmo tempo acaba por esvaziar os centros; na verdade o homem acaba por exilar a si mesmo da vida urbana, já que o fator humano não encontra aí espaço para existir ou se expandir.
A volta do humano nas cidades
A sugestão do cineasta é buscar nas cidades o mesmo que ele busca realizar em seus filmes: nem a imagem nem a paisagem urbana saturada tem valor em si própria, devendo novamente voltar a se relacionar socialmente com os seres que aí vivem, trazendo nessa relação uma gama de valores. A paisagem urbana não é morta, mas sim um elemento social vivo.
A paisagem urbana viva acolhe, inspira e situa o cidadão, construindo a identidade do mesmo. A cidade reflete o que as pessoas vivenciaram, exibindo por vezes feridas abertas. Um exemplo é o de Berlim depois da Segunda Guerra Mundial, ou num caso mais atual, do Ground Zero depois do atentado no World Trade Center em Nova Iorque. Essas brechas de vazio nas cidades tornam possível a (re)inserção do ser humano na paisagem urbana para que este possa refletir e compreender o todo, tanto sobre a cidade como a si mesmo. A construção, assim como o filme, deve manter essa relação aberta, preservando as ilhas urbanas como “pausas para respirar”.
Assim como nos filmes de Wenders, onde a relação frutífera entre imagem e espectador se dá na brecha, o retorno do homem ao centro urbano se torna possível através da preservação do vazio, fazendo com que o cidadão volte desse auto-exílio e se afirme pelo que realmente é, um cidadão urbano em harmonia com sua cidade. - Lene Thomsen Andino
E a verdade é que tem muito. Wenders afirma ser o cinema uma manifestação surgida da vida urbana em cidades: ele nasce da cidade e dela trata, utilizando-se da linguagem universal da imagem.
A evolução da imagem e das grandes cidades
Assim como as grandes cidades, a imagem cinematográfica está em constante mudança e passa por inúmeras transformações. A evolução tecnológica trouxe uma idéia de proximidade entre imagem e expectador que só cresceu com o surgimento da televisão “live”; as evoluções mais recentes provocaram uma democratização total da produção e transmissão da imagem, chegando ao ponto em que todas as cópias compartilham da mesma qualidade. A imagem de referência, a “verdadeira”, se perdeu, assim como a credibilidade que ela carregava. Neste processo também se perderam as experiências que se compartilhava nos cinemas. Hoje o expectador se isola e experiencia a imagem sozinho, ou é bombardeado incessantemente pelas imagens no meio urbano em que vive. A capacidade das pessoas de ver e ignorar imagens em sucessão é muito maior, fazendo com que a imagem tenha que lutar por atenção em um espaço já saturado. A imagem que antes retratava, hoje quer vender.
A mesma triste evolução se nota nas nossas cidades. A cidade torna-se um local de relações comerciais, fazendo desaparecer as relações sociais no meio urbano. Tanto a cidade quanto o cinema desenvolveram um ritmo atordoante e complexo que estressa, provocando uma overdose de informação de imagens que acaba por cegar as pessoas. O desconforto causado por essa enxurrada de publicidade agressiva extermina tudo o que há de humano nos centros urbanos. Wenders afirma ainda que o homem tenta dominar a terra, enchendo-a de construções e formando as grandes cidades, mas ao mesmo tempo acaba por esvaziar os centros; na verdade o homem acaba por exilar a si mesmo da vida urbana, já que o fator humano não encontra aí espaço para existir ou se expandir.
A volta do humano nas cidades
A sugestão do cineasta é buscar nas cidades o mesmo que ele busca realizar em seus filmes: nem a imagem nem a paisagem urbana saturada tem valor em si própria, devendo novamente voltar a se relacionar socialmente com os seres que aí vivem, trazendo nessa relação uma gama de valores. A paisagem urbana não é morta, mas sim um elemento social vivo.
A paisagem urbana viva acolhe, inspira e situa o cidadão, construindo a identidade do mesmo. A cidade reflete o que as pessoas vivenciaram, exibindo por vezes feridas abertas. Um exemplo é o de Berlim depois da Segunda Guerra Mundial, ou num caso mais atual, do Ground Zero depois do atentado no World Trade Center em Nova Iorque. Essas brechas de vazio nas cidades tornam possível a (re)inserção do ser humano na paisagem urbana para que este possa refletir e compreender o todo, tanto sobre a cidade como a si mesmo. A construção, assim como o filme, deve manter essa relação aberta, preservando as ilhas urbanas como “pausas para respirar”.
Assim como nos filmes de Wenders, onde a relação frutífera entre imagem e espectador se dá na brecha, o retorno do homem ao centro urbano se torna possível através da preservação do vazio, fazendo com que o cidadão volte desse auto-exílio e se afirme pelo que realmente é, um cidadão urbano em harmonia com sua cidade. - Lene Thomsen Andino


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