A saída de campo, ocorrida no último dia 2 de outubro, proporcionou-me olhar para as relações comerciais do centro urbano de uma forma mais crua.
Nos últimos anos, dentre outras mudanças ocorridas no hipercentro de Belo Horizonte, uma delas foi a padronização das placas contendo os nomes das lojas. Se por um lado isso contribui para a estética dos nossos grandes centros, por outro, falando comercialmente, pode culminar em perda de clientela.
Quando fala-se em comércio de centros, deve-se ter em mente que qualquer diferencial pode ser sinônimo de sucesso, tamanha é a concorrência nesse espaço. Há alguns anos, o centro de Belo Horizonte era tomado por vendedores ambulantes (camelôs), que dominavam as calçadas de ruas e avenidas. Hoje, apesar de não se encontrar camelôs como antigamente – ainda que possa se esbarrar com alguns vendedores ambulantes vez ou outra – e talvez por conta da padronização das placas, muitos comerciantes do hipercentro de Belo Horizonte fazem uso de práticas tipicamente relacionadas a camelôs e vendedores ambulantes.
Em frente às lojas é possível ouvir funcionários anunciando produtos através de microfones e sons mecânicos. Outros anunciam nas esquinas, muitas vezes a alguns metros das lojas onde trabalham. Muitos, não contentes em apenas anunciar, abordam os transeuntes (como o caso de algumas mulheres que serviam como intermediárias, oferecendo o serviço de dentista).
Os anúncios tradicionais, impressos, também sofrem uma reterritorialização, deixando de ocupar os locais tradicionais e indo parar nas calçadas, em forma de placas, banners que cobrem a entrada das lojas, ofertas anunciadas nos ferros das entradas, em pessoas, e quadros que literalmente ocupam o local dos pedestres.
Por sua vez, os produtos ali, também não se contentam em ficar apenas dentro das lojas, no espaço comumente reservado a eles. Foi possível ver manequins não em vitrines, mas nas calçadas. A invasão era tanta que sentia-se facilmente o cheiro de algumas mercadorias (carnes, pastéis, tabaco).
Durante essa experiência, enriquecedora a partir do momento que se enxerga de fato como ocorrem as relações comerciais na prática (ao menos no hipercentro), foi possível notar que os comércios do centro de Belo Horizonte literalmente invadem os espaços urbanos e “entram” nas pessoas – tendo sido convidados ou não.
Se um dos objetivos da Prefeitura, quando da decisão de padronizar o comércio do hipercentro, era acabar com a poluição visual típica dos vendedores ambulantes e camelôs de outrora, ela acabou apenas forçando outros comerciantes (esses sim, regularizados) a adotarem táticas de tais vendedores marginalizados, em um processo de reterritorialização, ainda que praticado inconscientemente.
4 comentários:
Afonso, você chegou a ver a dupla que vendia alho na Caetés? Eles não só gritavam "alho, da melhor qualidade, 1 real, 1 real", como te puxavam pelo ombro e te mostravam o alho a todo custo.
Achei aquilo tão único, mas seu trabalho demonstrou que essas ações fazem parte de um conjunto de práticas bem mais comuns, só questão de reparar. Assim que li seu post, me lembrei dessa cena.
abs!
eu lembro dessa dupla, valquíria!
vou postar aí pra cima a foto que fiz deles...
Eu fiz um vídeo sobre a dupla!
Assim que passar eles pro computador, eu posto tb! =D
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