sábado, 29 de novembro de 2008

Metropolização e Cultura e Transformação Urbana


Ao analizar o processo de metropolização, a fim de a transformação estrutural das cidades, depara-se com quatro dimensões em que as mudanças ocorrem. O espaço urbano torna-se um local de consumo, lazer e turismo – musealização - em que as pessoas já não tem vínculos diretos com o ambiente dentro das necessidades diárias. A descentralização da estrutura é acompanhada da fragmentação e apropriação do espaço público pelos interesses privados, que irão entrar em conflito a fim de ganhar legitimidade e reconhecimento na esfera pública. O gerenciamento desse espaço vai ser dado por critérios econômicos e competitivos. Nessa perspectiva, depara-se com o que o Walter Prgide chama de “Cidades dentro da Cidade”.

“Com isso tornam-se obsoletos termos como vida periferia, campo, centro; seus objetivos e usas relações precisam ser redefinidos: não existe mais um modelo uniforme de desenvolvimento urbano; o “centro” e a “periferia” são igualmente fragmentos de uma estrutura do espaço regional que se tornou policêntrica”(pag. 57)

Essa nova forma de configuração do espaço urbano, vai resultar em uma outra dimensão da mudança, que é a periferização do espaço central, resultado dessa nova forma de relacionamento com os centros. A idéia de espaço de forma compacta e estrutura complexa, que abarcava todas os espaços fundamentais para as relações entre os indivíduos é modificada com o processo de suburbanização, em que é transferida as funções urbanas para áreas marginais rompe com a idéia da cidade como núcleo centralizado. No entanto, mostra-se necessário entender esse processo em seu caráter simultâneo de concentração, marcada tanto por um movimento centrípeto – direção a cidade como espaço comum as trajetórias - e centrífugo – dispersão e ocupação das áreas marginais.

Individualização da estrutura social também é destacada como dimensão do processo transformador das cidades. As variações nos estilos de vida dos indivíduos, fruto também da diversidade e flexibilidade cultural, mostra que as relações de uso e apropriação desse espaço serão direcionadas pelas necessidades do cada sujeito. Em relação a idéia de urbanidade, que deveria estar presente nas relações entre a cidades e os que com ela se relacionam, depara-se um três noções sobre o conceito, que buscam de alguma forma mostrar uma leitura atualizada sobre essa nova forma de interação com o espaço urbano na qual a cidade está inserida

URBANIDADE como:
 Como algo produzível, enquanto esstratégia estética hegemônica
 Pluralização das representações da individualidade através dos estilos de vida
 Cultura de aceitação da diversidade e de integração de interesses opostos

Ainda sobre o processo de metropolização, é possível perceber a tendência da privatização e individualização dos eventos públicos no ambiente central ambiente central. Ocorrendo o que o autor chama de midialização da cultura. Cada indiviíduo
Passa a mostra uma espécie e percepção e apropriação daquele espaço. No entanto, é necessário entender que midializar não deve se constituir como uma prática de estrutura unidirecional, mas como espaço de interatividade como o espectador, de forma a transformá-lo em um produto público cultural, possibilitando o aproveitamento produtivo dos processos de midialização global, na cultural local.

A noção de “cidades-evento” de Prigge é retomada por Otília Arantes, a qual associa o termo às “cidades ocasionais”, citada por outro autor, Francesco Indovina. Otília atenta para o fato de que o ato de “fazer cidade” passou a ser concebido sob a perspectiva do lucro, diante de ocasiões que possam gerar negócios.
Em crítica a esse pensamento comum do urbanismo atual, e apropriando-se de referências teóricas de autores como Peter Hall e Molotch, ela atenta para o fato de que hoje, ao invés de se usar o planejamento urbano para corrigir os problemas das cidades, o mesmo está sendo exercido como um ato empreendedor. “O planejador foi se confundindo cada vez mais com o seu tradicional adversário, o empreendedor(...)” (p.81).

Originou-se uma grande obsessão pelo crescimento, em que autoridades visam colocar sua cidade em nível de competitividade global. Esquecendo-se do planejamento social e das necessidades reais da população da região, privilegiam o destaque internacional da cidade, para que ela seja constantemente procurada para novos investimentos.

Exemplos de tal situação não faltam. Na própria capital mineira tivemos há pouco a reforma do estádio Mineirão, para receber o jogo do Brasil contra a Argentina, em que foi utilizada grande quantidade de verbas, que poderia ser usada para corrigir problemas sociais mais graves. No Rio de Janeiro, o dispêndio com o Pan também foi assustador. Principalmente pelo fato de que os estádios sequer estão sendo utilizados, hoje, pela população.
Segundo a autora, para que essa máquina de crescimento seja colocada em prática, é necessário que exista um consenso entre a população. Para isso, criam-se “orgulhos cívicos” e “patriotismos de massa”, gerando uma falsa ilusão de que o negócio será benéfico para todas as partes. Falsa, pois, na maioria das vezes, quem acaba usufruindo desses benefícios é a menor parcela da população, ou seja, aqueles que já possuem condições para tanto. Mais um motivo de segregação e separação, principalmente em cidades de países como o Brasil, em que as diferenças sociais são gritantes.

Estamos vivendo em um período em que a cidade passou a ser gerida “não só like business, mas, antes, for business(...)” (p.66). Resta a pergunta: QUEM FAZ, PORTANTO, A CIDADE?



Post referente ao seminário apresetado em sala.
Grupo: Ana Cláudia Paschoal, Paula Santos, Phellipy Jacome e Ricardo Lopes

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Porque a língua Portuguêsa é tão difícil...

E cômico e, talvez, irônica que eu raramente consegui falar numa aula de comunicação. Muitos tempos queria, especialmente os tempos quando a gente falava sobre a interculturalidade nos espaços urbanos. Também eu vi muitas diferenças entre a definição de um espaço urbano aqui e um nos Estados unidos. A palavra ‘urbano’ nos Estados Unidos e mais usado para descrever uma disposição social—uma palavra mais “politicamente correto”—mas ainda ruim e racista, eu acho—para referir aos pessoas latinos e afro-americanos.A idéia e que a maioria das pessoas negras e latinas lá moram nas cidades. Então para não parecer notoriamente racista, muitas pessoas usam a palavra “urban” . Então, para mim era difícil acostumar para um ambiente onde ninguém tem essa conexão histórica ao palavra. Mas, foi bom.
Outra coisa que eu queria dizer...foi muito legal aprender sobre comunicação e cultura de nível global. Uma pessoa podia ler sobre as opinião da perspectiva brasileira, mas nunca realmente tem em conta a complexidade de cada pessoa. Então, obrigada para isto.

Uma Cidade Dentro da Cidade: As Praças do Belo Horizonte

Caroline McCormack


Primeiro, o trabalho no centro foi perfeita para mim, uma gringa, que ainda esta aprendendo as ruas no belo horizonte. Agora, tudo parece muito mais organizado com algumas conexão, posso fazer sentido com o fato que Belo Horizonte e a primeira cidade planejada no Brasil!
Onde eu moro em Chicago, não existe nenhum tipo de espaço verde lugar perto do centro, como aqui no centro do Belo Horizonte. No entanto, o que mais me intriga não é a idéia de ter um espaço verde no meio de um espaço metropolitano, é mais o uso dos mesmos. Todas as praça que a gente chegou na caminha da cidade—praça da Liberdade, Praça da Estação—estava cheio das pessoas conversando, comendo, cantando… durante o dia! Foi muito engraçada para ver. Parece que esse ponto de encontro neutro que é eternamente ativa. E acessível para todos na cidade. Eu nunca posso ver isto onde eu moro. Tudo e mais fechado. Claro que tem parque, mas com uma parque, você ainda tem o sentido de escapa. Com a praça, tudo e aberto, e o mundo pode ver você. Nao tem morro, só espaço indicado pelo cruzamento das ruas. Foi muito legal.

Claro que eu penso sobre o texto de Jane Jacobs; “ Morte e Vida de Grandes Cidades”.
Especialmente a parte sobre Los Angeles: “Los Angeles e um exemplo extremo de metrópole com vida publica escassa, que depende principalmente de uma natureza social mais privada. De um lado por exemplos, uma conhecida minha de lá comenta que apesar de viver na cidade a dez anos e saber que ha mexicanos entre os habitantes, ela nunca viu um mexicano ou uma peca de cultura mexicana, e muito menos trocou uma palavra com algum deles” (Jacobs, 76)




Talvez...Nova Opinião: Commentario Sobre o Texto de Canclini ("Diferentes, Desiguais e Desconectados")

Qualquer coisa envolvida com essa idéia de interculturalidade, eu sempre pago atenção. Suponho e porque eu moro em uma sociedade que não acredito no fato que uma pessoa pode identificar com vários tipos de identidades, e as linhas entre identidades são bem distintas. Você tem que escolher. Então para mim, uma Americana que tem uma mãe Afro-Americana e um pai Irlandês, essa questão de multi-culturalidade e central.

Embora Canclini principalmente falou sobre a sociedade e cultura em esse nível macro, eu sinto que pode aplicar esses mesmos conceitos de interculturalidade ao discutir identidade individual dentro de uma cultura. Ele me chamou atenção com a idéia de apropriação cultural quando ele falou sobre os artesanato no México:
" Os objetos artesanais costumam produzir-se em grupos indígena ou camponês, circulam pela sociedade e apropriados por setores urbanos, turistas, brancos, não-indigenas, com outros perfis socioculturais, que lhes atribuem funções distintas daquelas para as quais fabricaram...Não ha por que argumentar que se perdeu o significado do objeto: tranformou-se. E etnocêntrico pensar que se degradou o sentido do artesanato. O que ocorreu foi que mudo de significado ao passar de um sistema cultura a outro, ao inserir-se em novas relacoes-sociais simbolicas" (Canclini, 42. Ele esta dizendo, para mim, e que não e e necessaro pensar tão cinicamente--que eu usualmente estou pensando.
Outra parte: "De um ponto de vista antropológico, não ha motivos para pensar que um uso seja mais ou menos legitimo do que o outro. Com todo o direito, cada grupo social muda significações e os uso. Neste ponto, as analises antropológicas precisam convergir com os estudos sobre comunicação, porque estamos falando de circulação de bens e mensagens, mudanças de significado, estamos falando da passagem de uma instancia para outra, de um grupo para vários"(Clanclini,43) Primeiro, após a leitura deste, nao acreditei; esta idéia de que a beleza e a originalidade de uma cultura pode ser mantida se outro - com mais freqüência que não - mais poderosos e privilegiados da cultura tira os valores e, em seguida, saiu o lugar.Em segundo lugar, eu pensei de Hip Hop em America-norte Afro-Americana, e da sua eventual apropriação por um mais poderoso America-norte Branca. A idéia de que algo que começou como um movimento artístico em ação de protesto contra os brancos americanas é, agora, emanado pela massa.

Clanclini diz que essa raiva e senso de propriedade que eu tenho com Hip Hop - uma cultura que começou nas ruas do sul do Bronx, New York, mas agora espalha tanto quanto subúrbios ricos da Califórnia e por todo lado entre – não e útil. A realidade e simplesmente que não perde seu sentido de vale. Ele se torna algo de novo.

Caroline Donia McCormack

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Comentário do texto “A cultura extraviada nas suas definições” de Nestor García Canclini

O texto começa dizendo sobre as inúmeras definições já tecidas a respeito do conceito de cultura. Diz da importância de se investigar como se chegou a um consenso em torno de uma definição em condições multiculturais em que este termo é empregado. Porém, a pluralidade de culturas contribui para uma diversidade de paradigmas científicos, sendo difícil instituir um paradigma com maior capacidade explicativa.

A partir dessa reflexão, indaga-se sobre quais são os principais significados atribuídos ao termo cultura utilizados nos dias atuais. Dentre elas, há aquela noção de cultura como um acúmulo de conhecimento e aptidões intelectuais e estéticas, uma elitização do termo. Há também uma noção científica da cultura, que visa estabelecer um sistema teórico determinado com o intuito de evitar conotações erradas da linguagem comum. Nessa corrente, pensa-se a cultura como aquilo criado pelo homem em contraposição com o “natural” que existe no mundo. Questiona-se também se cultura assim definida não se aproximaria de um sinônimo do conceito de formação social, em que a cultura é a forma que adota uma sociedade unificada pelos valores dominantes.

Tal maneira de se pensar cultura serviu para superar as formas primárias do etnocentrismo. Daí vem o relativismo cultural. Assim, sem hierarquia, as culturas se tornam incompatíveis e incomensuráveis.

Mas tarde são distinguidos tipos diferentes de valor na sociedade econômica: valor de signo e valor simbólico. Sendo o primeiro relacionado a um status adquirido por exemplo a uma geladeira que possui um design sofisticado em relação a uma geladeira comum. O segundo se relaciona a rituais ou atos particulares que ocorrem dentro de uma sociedade e relações de afeto atribuídos a objetos. Assim, fala-se também de valor de uso e valor de troca. Sendo o primeiro relacionado a aspectos subjetivos, ao valor simbólico, e o segundo mais ligado ao valor de signo, ao preço de determinado produto.

Me parece interessante a linha de pensamento que vê a cultura como “uma instância de conformação do consenso e da hegemonia, ou seja, de configuração da cultura política e também da legitimidade(...) Os recursos simbólicos e seus diversos modos de organização têm a ver com os modos de auto-representar-se e de representar os outros nas relações de diferença e desigualdade, ou seja, nomeando ou desconhecendo, valorizando ou desqualificando.”

Por fim, ao estudarmos culturas e no cenário urbano, buscamos entender os processos através dos quais grupos representam e intuem imaginariamente o social, estabelecem e organizam relação com outro, ordenam suas diferenças mediante o funcionamento da sociedade.

Caio Couto Pereira

Comentário do texto do seminário

Vida na Metrópole: Comunicação Visual e Intervenções Juvenis em São Paulo


Assim como foi discutido durante as aulas, o texto traz a reflexão da cidade como um espaço de experienciação, não somente como um espaço físico, que existe fluxo de indivíduos e produtos. As autoras refletem sobre a dinâmica desse espaço, as intervenção que os indivíduos performam ali e as ordens imaginárias que surgem desse cenário.

No caso específico desse texto, é evidenciada a prática de intervenção no espaço público realizadas por jovens que se apropriam dele e o reterritorializam. Jovens que visam ganhar visibilidade por meio de intervenções nas ruas, e que impulsionados pelas tecnologias de produção multimídia conseguem divulgar suas ações pela Internet, podendo assim serem visto não somente em uma instância local, por aqueles que passam pela cidade, mas por indivíduos de todo o mundo.

Outra relação importante descrita no texto é a da influência dessa cultura que emerge clandestina, mas que ganha reconhecimento pelos meios massivos, pelos grandes produtores e disseminadores de tendências, que por sua vez se apropriam dessas novas linguagens de rua e as incorporam como um produto da industria cultural.

É dada também grande importância à comunicação realizada por meio de pôsteres. Essa forma de expressão passa a constituir parte significativa da paisagem urbana por volta da década de 60. Circulando pela cidade pode-se perceber o tempo todo um mosaico de cores formado pelos mais diversos cartazes. Esse suporte comunica apelos estéticos, comerciais, políticos, entre outros. É mencionado com protestos estudantis se apropriaram de técnicas de impressão e começaram a produzir seus cartazes com base em seu engajamento político. Daí surge o faça-você-mesmo, que não somente propõe a liberdade de expressão, mas a contesta valores sociais convencionais. Essa atitude passa a ser denominada undergroud. Como eram produzidos periódicos, revistas com impressão de má qualidade, acabou se formando um estilo próprio desses movimentos, caracterizado por uma estética do ruído. Assim, nos anos 1970 o estilo punk nasce em Londres intimamente ligado a esses movimentos e leva-os as últimas conseqüências.

Outro aspecto salientado pelas autoras é a dificuldade de se criar um instrumento metodológico que seja eficiente para analisar essas manifestações juvenis que emergem nas ruas. A complexidade dos centros urbanos e a diversidade de apropriações realizadas ali formam um panorama difícil de ser investigado com rigor metodológico.

Por fim, as autores visam suscitar questões a respeito dos jovens no que tange as visões de mundo, o imaginário, a forma com que ocupam as cidade, as referências gráficas, linguagens e técnicas utilizadas por eles, os suportes que utilizam e como se dá a apropriação que fazem dos espaços públicos e privados.

Válquiria, Daniel e Caio Couto.

Belo Horizonte Music Station: deslocamento do uso/consumo do metrô


Quando soube que ocorreria a 2º edição do projeto Belo Horizonte Music Station (para quem não conferiu ainda, o site é http://www.bhmusicstation.com.br/) fiquei super empolgada. O projeto consiste na realização de shows nas Estações Central, Santa Inês, Minas Shopping e Vilarinho. Artistas e bandas como Arnaldo Antunes, Tom Zé, Nação Zumbi, Movéis Coloniais de Acaju se apresentarão durante a madrugada de quatro fins de semana e as pessoas poderão circular, através do metrô, de um show para outro. Também acontecerão performances, esquetes teatrais, poesia e circo.

Acho que o que mais atraiu na idéia do projeto foi a possibilidade de deslocamento inerente ao fato de se realizar no espaço dos metrôs e o ambiente das estacões, que relaciono sempre à algo meio obscuro, underground. Só relaciono, porque foi então que me dei conta de que nunca fui a um metrô em Belo Horizonte. É estranho pensar que foi preciso um evento para me levar a atentar para esse meio de transporte coletivo. Não por necessidade, mas por lazer é que vou conhecer o metrô de BH. E detalhe, quando mudei para cá, morava no Palmares, bem perto da Estação Minas Shopping e se tivesse criado o hábito de usar o metrô como meio de transporte, isso teria me evitado muitas horas de engarrafamento no deslocamento entre meu bairro e o centro da cidade, por exemplo.

Janice Caiafa destaca que o equipamento coletivo presta um serviço para coletividade, logo torna-se um equipamento de serviço. O ato de transportar-se através do metrô constitui uma forma de uso que suplanta o esquadrinhamento do controle. No entanto, ocorre um fenômeno central no regime da gestão privada dos equipamentos coletivos que desloca o uso para o consumo. Não se usa o metrô porque esse é um direito do usuário, mas o mesmo torna-se um cliente que compra o deslocamento.

A riqueza e pluralidade desse meio de transporte coletivo consistem nas possibilidades de processos comunicativos e sociabilidades que se desenvolvem a partir da experiência de se frequentar esse espaço. Segundo Caiafa, o transporte coletivo tem uma função de “dar fuga”, abrindo espaço para a variação dos processos subjetivos e uma comunicação da diferença. O transportar-se abre possibilidades para o contato e interação com pessoas desconhecidas, umas das marcas do meio urbano.

O projeto Belo Horizonte Music Station reapropria um espaço público  configurado para atender as necessidades de deslocamento das pessoas no meio urbano e coloca-o como um espaço particular voltado para o lazer e cultura. A resignificação do espaço dos metrôs que se opera por meio desse deslocamento abre espaço para o estabelecimento de novos tipos de relacão entre os sujeitos que frequentarão esse espaço e entre os sujeitos e esse meio. Particularmente, achei ótima essa iniciativa, pois me instiga a idéia do movimento, da circulação de pessoas, do espaço do metrô ocupado durante a madrugada.

No entanto, fica a questão: para que público se volta esse projeto? Com um ingresso no valor de 60 reais a inteira, a maioria das pessoas que vai a esse evento é formada de individuos que mal utilizam esse transporte coletivo. A grande parte da população que frequenta os metrôs no seu dia a dia fica excluida dessa manifestação. Novamente, ocorre o deslocamento do uso para o consumo de um produto.

 Paula Santos.

À procura da arte nos mapas

Quando fui à exposição “A Arte nos Mapas: uma Viagem pelos Quatro Cantos do Mundo”, na Casa Fiat de Cultura fiquei impressionada com a quantidade de coisas que os mapas, ao menos os mais antigos, revelam sobre a vida, os costumes e o imaginário de um povo e de uma época. Os mapas apresentados na exposição, renascentistas e posteriores, vão muito além de representações do espaço físico dos países e continentes. Monstros marinhos e outras crenças, imagens da fauna e da flora, e até referências de padrões de beleza aparecem no mapas.

Com o tempo, essas representações foram deixadas à margem e passaram a ter importância secundária nos mapas. A realidade cotidiana daquele espaço ali representado deixou de ser incorporada a tal representação. As alegorias passaram a revelar apenas o interesse econômico e político do europeu em relação aos outros territórios.

Depois de ler o texto “Caminhadas pela Cidade”, de Michel de Certeau, no qual o autor critica a redução do caminhar, do trajeto, da experiência singular à traços em um papel, à mapas, fiquei pensando que essa mudança na forma de concepção e entendimento dos mapas pode ter ido mas além do que apenas a perda da beleza artística desses instrumentos cartográficos.

A não incorporação dos elementos do cotidiano nas representações do espaço faz com que esses ambientes percam vida. Os mapas existem por uma necessidade humana de visualizar os lugares. No entanto, não me parece coerente ignorar nessa visualização o próprio homem e suas ações, já que essas ações interferem constantemente na realidade dos espaços, atribuindo a eles novos significados.

Talvez falte um pouco do olhar artístico (ou melhor dizendo, do olhar crítico) dos renascentistas nos urbanistas contemporâneos, para que os traços dos mapas ganhem mais significação e o próprio espaço, mais identidade e identificação.


Postado por Júnea Casagrande

Samba do Criolo Doido

Nunca gostei muito de passear pelo Centro de Belo Horizonte. Uma confusão, um mundo de pessoas se esbarrando, barulhos demais, cheiros demais. Sempre achei isso tudo um “samba do criolo doido”. E acho que não tive olhar de pesquisador suficiente para compreender tudo isso mais a fundo em uma deriva cartográfica.

Talvez eu precise trabalhar mais a arte do “saber olhar”, ao invés de querer engolir o mundo com os olhos, ver tudo ao mesmo tempo. Talvez me falte foco (não no que se refere apenas à deriva cartográfica). Quem sabe seja déficit de atenção.

O fato é que andei por aquelas ruas do centro, anotando várias coisas, tentando aguçar meus sentidos, procurando algo incrível para olhar, e depois de quase duas horas sai de lá sem saber o que tinha me chamado mais atenção. As cores, os barulhos, os cheiros ou as pessoas?

Acho que toda essa miscelânea que me repelia, acabou por me atrair. Aos meus olhos, o que torna o centro tão peculiar é exatamente essa concentração de gente diferente, de discursos distintos, dos mais variados produtos. Lojas de roupa, açougues, cinemas pornôs, motéis, hotéis, escritórios, restaurantes, lojas de tecido, lanchonetes, lojas de eletrodomésticos. Uma coisa bem ao lado da outra. Executivos, toureiros, estudantes, velhos, jovens, homens, mulheres, pastores, eleitores, políticos. Todos caminhando lado a lado. Um carro passa tocado funk, outro toca trance na maior altura. Uma loja, para atrair (ou não) os clientes, coloca no som um sertanejo. Outra opta pelo axé. E tem também pop rock. Alguns falam no mega-fone, outros gritam no gógó mesmo. Prédios bem conservados, outros nem tanto. Edifícios altos ao lado de casas pequenas. Lojas amarelas, em frente a outras vermelhas, azuis e verdes.

Mesmo com as críticas feitas sobre a ação do sistema e a atuação urbanística que interferem nas possibilidades de vivência e experimentação dos indivíduos que habitam a cidade cotidianamente, acho que não tem como negar que o Centro é um lugar, de certa forma, democrático.

Pode não ter o mesmo espaço para todo mundo. Pode não ser tão fácil se apropriar, se manifestar e se fazer notar. Mas acho que de alguma forma, o centro de BH é um espaço no qual a ação social fala forte e alto. Um local em que os atores sociais conquistaram, e vem constantemente conquistando, como palco de suas expressões e anseios.

É... Posso falar que apesar da confusão, que inegavelmente existe, o exercício de alteridade intrínseco à experimentação do centro da cidade, de alguma maneira estranha, conseguiu me encantar.


Postado por Júnea Casagrande

árvores e cidades


vendo os cartões do forum doc, lembrei de uma foto que tirei em Havana, Cuba.
lene thomsen andino

"Fotógrafos viajantes, Mediação e Experiência"- Daniela Palmas

A fotografia, desde seus inícios, liga-se à idéia de mobilidade, de aproximação de distâncias. Prática de viajantes, é espaço privilegiado do confronto de culturas.

O artigo propõe a discussão do fazer fotográfico em torno de três tipos básicos deslocados: o turista, o correspondente e o exilado. As questões principais são:
- produzir fotografias é um ato passível de ser traduzido em experiência?
- é possível ao produtor de imagens experimentar o mundo através do visor de uma máquina?
- o fotógrafo viajante vivencia e faz história, experimenta o contato com o Outro ou simplesmente acumula percepções?
Segundo o artigo, fotografar é participar: “o ato de fotografar transfigura-se em acontecimento pois interfere em nosso sentido de localização, a presença da camera fotográfica nos faz perceber o tempo como um desfile de acontecimentos, dos quais estamos aptos a selecionar os que valem a pena serem fotografados(…) olhar através do visor jamais carrega a mesma passividade que um olhar direto, sem mediação tecnológica, pode ter”.

O turista


A fotografia como elemento definidor do olhar do turista.
“Uma vista de um cartão postal oferece um enquadramento prévio do local a ser visitado, sua função é direcionar os olhares dos turistas a uma certa experiência estética”.
Porém a realidade do local visitado muitas vezes não é “aceita” pela grande maioria dos turistas; diante das maravilhas da terra, as pessoas preferem que a câmera tenha a experiência por elas, também para possuirem um troféu para mostrarem para os amigos quando voltarem para casa.

O correspondente


Segundo o fotógrafo Christian Simonpietri, ao presenciar atrocidades, os correspondentes se refugiam por trás da câmera, “que nessas horas difíceis vira uma espécie de escudo. A gente desliga da vida, fica escondido e só vê com um olho, o outro fica fechado.”
Nessa relação, há porém uma experiência, já que o correspondente torna-se um espectador “privilegiado”, que nos transmite uma experiência que não poderia ser comprovada por nós. Os correspondentes sofrem entretanto duras críticas, sendo acusados de não intervir em situações terríveis; eles porém rebatem com o argumento: “quem registra não pode intervir”. Esse argumento pressupõe uma objetividade da fotografia do correspondente, esquecendo-se talvez que a realidade sempre se transforma com a presença de um registrador, havendo aí uma grande tensão entre o documental e o ficcional, o que é “encenado” para as câmeras e o que espelha a realidade como ela é.

O exilado


Palmas utiliza o exemplo de Hans Gunter Flieg (que veio para São Paulo em 1939), cujas fotografias agregam a modernidade e a antiguidade, passado e presente em harmonia dinâmica. Flieg congraça tempos: os edifícios históricos, são apresentados como componentes urbanos que fazem parted a dinâmica da cidade: “o agora da modernidade ganha relevo histórico”.
O exilado, como “ser descontínuo”, que perdeu sua historicidade do país de origem, se esvazia de sentido. Ao conseguir congregar o antes e o agora em uma experiência que não se restringe à tempos, ele começa do marco zero, se definindo novamente como ser humano histórico.

A experiência do fotógrafo pode ser então assim definida:
“olhar o Outro pela fotografia: experiência situada fora do sujeito nas práticas do turismo commercial de mass, inexperenciável nas imagens de choque do fotojornalismo e enraizante na trajetória de um fotógrafo exilado”.

Grupo:
Lene Andino
Caroline McCormack
Nathália Mendes

Deriva - Estratégias e Táticas

" Dessa água regulada em princípio pelas redes institucionais que de fato ela vai aos poucos erodindo e deslocando, as estatísticas não conhecem quase nada" (CERTAU:2004)

O centro talvez seja o lugar mais privilegiado da cidade para se observar como o poder público tenta controlar e ordenar o fluxo de pessoas e veículos através das estratégias. Placas, letreiros luminosos, semáforos, faixas para pedestre, tudo isso tenta regular e manipular as mais variadas as ações. No entanto, o modo como os sujeitos se apropriam da cidade é diverso e, por vezes, imprevisível. "Tem que utilizar, vigilante, as falhas que as conjunturas particulares vão abrindo na vigilância do poder proprietário. Ai vai caçar. Cria ali as surpresas. Consegue estar onde ninguém espera. É astúcia".




Phellipy Jácome

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Paisagens sonoras do comércio popular:
uma perspectiva para os estudos do som nos espaços urbanos

Pedro Silva Marra

Grupo: Ana Cláudia Cunha Nunes, Carla Pedrosa, Raíssa Pena, Ronei Sampaio


Já no começo do texto, o autor chama a atenção para a escassez de pesquisas em comunicação e culturas urbanas que se preocupem com o som. Certamente pela profusão e evidência dos estímulos visuais e textuais da cidade, são poucos os estudos que buscam compreender as relações entre as mensagens sonoras presentes no espaço urbano.

E o trabalho de Pedro Marra está justamente inserido na pesquisa Cartografia de Sentidos, que busca entender os usos e as apropriações do centro de Belo Horizonte por meio dos estímulos sensórios e cogntivos que atingem a cada habitante da cidade de maneira singular.
Para o artigo que apresentamos, o autor estudo o caso empírico dos pregoeiros, que anunciam produtos e serviços no centro de BH.

É interessante perceber como os pregões fazem parte de um ritmo que é intrínseco a cada rua da cidade,cada uma com sua própria lógica, de transeuntes ou trânsito mais ou menos elevados, onde as sonoras frases dos pregões tentam se harmonizar com a batida estabelecida por outros elementos. É essa propriedade do som de compor ambientes que dá origem ao termo Paisagem Sonora,também citado no texto. Nesse sentido, aproximamos um pouco mais a visão ("paisagem") da audição ("sonora") quando entendemos que o som é o que nos dá a noção de tridimensionalidade. O ambiente é feito de som.


O grupo sugere que primeiro o som seja escutado e, num segundo momento, o vídeo seja visto. O objetivo é desafiar o ouvinte para o reconhecimento dos lugares apenas pela informação auditiva.























Caminhadas pela cidade – Michel de Certeau

Postagem individual - Ronei Silva Sampaio


Em seu texto Caminhadas pela cidade, Certeau argumenta que quem sobe a grandes altitudes, como o World Trade Center, e é arrebatado pela sensação de onisciência e foge da massa triturante que solapa a identidade de autores e espectadores. Esse é o ponto de vista panóptico, uma das conformações estratégicas que figura do lado da superação do tempo em prol do lugar e da dominação do poder de saber (ações que dizem do planejamento urbano estratégicos)

A cidade vista de cima é apontada por Certeau como um simulacro teórico, ou seja, como um conceito que opera sobre a condição do esquecimento ou desconhecimento das práticas. Para o autor, é embaixo onde vivem os praticantes cotidianos da cidade. Eles falam e, acima de tudo, andam. É nesse movimento que eles constroem um texto urbano que não pode ser lido.

A reivindicação de Certeau acerca da consideração do lugar das práticas o aproxima de Hauser, crítico de arte, e de suas queixas quanto ao classicismo. A partir de um outro ponto de vista, este autor critica o classicismo por representar as figuras humanas através de conceitos, expressões vazias e abstratas que poderiam ser de qualquer um, gestos insossos que não correspondiam à potência do gestual humano. Cada um ao seu modo, Certeau e Hauser criticam o afastamento das concepções teóricas e artística do terreno da praxis, da ação dos indivíduos no mundo, de sua existência concreta.

O objetivo de Certeau é detectar práticas que fogem ao modo de ver panóptico, teórico, do planejamento. “Essas práticas do espaço remetem a uma forma específica de ‘operações’ (‘maneiras de fazer’), a uma “outra espacialidade’(uma experiência antropológica, poética e mítica do espaço) e a uma mobilidade opaca e cega da cidade habitada.” (CERTEAU, 1994, p. 172). Desta forma, o autor fala de uma cidade metafórica, transumante, como constituindo um outro texto que parece rolar sobre o texto claro da cidade planejada e visível.

Neste contexto, o autor aborda uma atividade comum nas cidades, o andar: a partir da metáfora do andar como um ato de enunciação, Certeau afirma que o andar é o elemento que constitui a própria cidade, que a reinventa. Ao caminhar, os indivíduos constituem caminhos novos, atalhos, reanimam espaços, condenam outros ao esquecimento. O andar é, desta forma, descontínuo, presente e fático. É descontínuo porque atualiza, de maneira não incerta, lugares, cria interdições e novas possibilidades. É presente porque diz da apropriação presente do sistema de enunciação e é fático porque confere certa organicidade a lugares e condena outros ao esquecimento.

Para concluir essa reflexão, sugiro três imagens: a primeira é de Atget, fotógrafo francês do surrealismo que, durante o século XIX produziu imagens de uma Paris vazia, habitada apenas pelos monumentos e pelas duras linhas que deles emergiam. O outro é Luciano Costa, fotógrafo contemporâneo que retratou Paris de maneira diferente de Atget, uma cidade animada. Ao que parece, Atget poderia traduzir em imagens o que seria uma cidade como Paris vista de um plano panóptico (ainda que o ângulo não seja o de cima). Já as imagens de Luciano poderiam exemplificar o registro das práticas, das intervenções no mundo, da recriação do cotidiano.

Atget



Luciano Costa

Imaginarios urbanos e Imaginación Urbana

Postagem do texto apresentado, através de seminário, por João Paulo e Rafael Cerqueira.


Imaginarios urbanos e Imaginación Urbana

Razones de um malestar

O estudo dos imaginários e da imaginação é espaço para um conflito: enquanto que os imaginários urbanos são a reflexão cultural sobre as mais diversas formas em que as sociedades se representam nas cidades, constroem seus modos de comunicação e seus códigos de compreensão da vida urbana. A imaginação urbana trata da dimensão técno-política, feita geralmente por um corpo especializado de profissionais, acerca de como a cidade deve ser. O mal-estar decorre do conflito entre esses dois elementos. Ele é justificado no fato de que os estudos sobre imaginários urbanos são requisitados aos planejadores urbanos como meio de se produzir políticas públicas.
Gorelik descreve o contexto de produção intelectual sócio-urbano na América Latina, na convergência de diversas disciplinas como modo de abordagem de problemas tipicamente urbanos.
O autor aponta o nascimento dos estudos culturais urbanos na América Latina em três autores, durante a década de 70: Angel Rama, Jose Luis Romero e Richard Morse. Em suas primeiras definições de cultura, segundo o autor, imaginário e imaginação se mesclavam, formando parte de um mesmo desafio intelectual e político. A primeira definição de um possível campo de estudos culturais urbanos latino-americanos nasceu no mesmo período em que várias concepções que o basearam começavam a extinguir-se. Tal contexto, descrito pelo autor, foi não apenas de mudanças na cultura acadêmica, mas também de profundas transformações nas cidades latino-americanas.


Cartografias Urbanas

O autor propõe abordar os estudos culturais urbanos através de uma metáfora cartográfica. Ele aponta dois textos inaugurais da disciplina: A Invenção do Cotidiano, de Michel de Certeau (1980), e O Pós-modernismo como lógica cultural do capitalismo tardio, de Frederic Jameson (1983). Jameson, influenciado pelos estudos de Kevin Lynch (A Imagem da Cidade), por sua vez influenciado pelo trabalho de Edward Hall, sobre antropologia do espaço. A principal idéia promovida por este diálogo é a de recuperação do sentido de pertencimento dos habitantes urbanos através de uma reconquista do sentido de lugar. Outro autor citado por Gorelik, que deu grande contribuição aos estudos urbanos foi Michel Foucault, principalmente por suas reflexões sobre as reconsiderações culturais da cidade. A contribuição de Foucault para os estudos urbanos significou uma mudança na concepção de urbano, através da mescla de matrizes estruturalistas e fenomenológicas. Nesta perspectiva, a cidade pode ser compreendida como um espaço heterogêneo, socialmente produzido por uma trama de relações, onde ocorre a materialização da dinâmica das práticas sociais. É desta perspectiva que vai emergir os trabalhos de Certeau e Jameson.
Segundo Certeau, há um contraponto, na história da cartografia, ao discurso científico moderno. Trata-se da representação simbólica do espaço medieval, que o autor procura recuperá-la nos relatos espontâneos do uso da cidade. Ao processo descrito por ele, de autonomização dos mapas, ocorrido entre os séculos XV e XVIII, houve um progressivo desaparecimento dos itinerários escritos, inclusive nos mapas portuários, considerados, assim, como marcas empíricas produzidas pela observação dos navegantes. Para o autor, o plano moderno foi imposto a estes mapas, o que significou o triunfo da geometria abstrata do discurso científico frente ao sistema narrativo da experiência de viagem. Foi a supremacia da visão objetivista da realidade que inaugurou a representação em perspectiva, a compreensão moderna de um espaço-tempo homogêneo e matemático. A representação “perspectivista” do espaço inaugurou a transformação do feito urbano em conceito de cidade, de tal modo que substituiu a realidade com sua imagem planimétrica, imagem antes que não estava acessível às pessoas. Para fugir desta visão perspectivista, Certeau indica o nível do solo, onde se encontram os praticantes ordinários da cidade.
Para Jameson, a evolução cartográfica é um dos pontos mais avançados da história do progresso científico, permitindo a ascensão de uma forma cultural nova, que teve profunda repercussão nos estudos urbanos. Ele cita o exemplo dos mapas cognitivos, amparado nas idéias de Kevin Lynchy e Edward Hall: o sentido de pertencer dos habitantes das cidades se daria através de uma reconquista do sentido de lugar. Sua concepção de mapa cognitivo é considerada uma chave da cultura urbana pós-moderna: o traçado dos mapas cognitivos proporcionaria ao sujeito individual um novo e mais elevado sentido de lugar que ocupa no sistema global.


El fin del gran relato o el gran relato del fin

Tendo em vista as abordagens de Certeau e Jameson, Adrián Gorelik propõe duas questões. A primeira diz respeito à irregularidade da evolução dos estudos culturais urbanos na América Latina. Segundo Gorelik, correntemente se observa a produção de uma ampla variedade de trabalhos a respeito do tema no continente latino-americano que possuem um caráter hibrido, em cujo interior convivem visões opostas, simultaneamente de caráter pós-moderno e anti-moderno, por exemplo. A segunda questão para Gorelik é a seguinte: qual o efeito do imaginário acadêmico sobre o conhecimento da cidade? A resposta ou diagnóstico que este propõe é que a cidade de maneira geral perdeu a ilusão de projeto, a “cidade conceito” deu lugar à “cidade real”, que só pode ser conhecida quando rompidas as barreiras da homogeneidade social e cultural. A percepção de que são os técnicos que sabem das necessidades da cidade é com isso rechaçada, dando lugar à visão do técnico como um facilitador, aquele que remove os obstáculos para que a sociedade possa decidir o que é melhor para si.
Um problema que se coloca para Gorelik, no entanto, é como se dá a dinâmica quando o pensamento técnico apropria-se das críticas pós-modernas na elaboração e justificação de seus projetos. Ainda que não ofereça uma resposta definitiva para esta indagação, o autor afirma que a postura fundamental daquele que pretende pensar e transformar a cidade é a do reconhecimento de seu caráter essencialmente caótico. Talvez este esforço dos técnicos em aproximarem-se do discurso pós-moderno reflita justamente uma tentativa de conciliação com este caos.
Ainda com relação a esta dimensão do conflito entre os imaginários urbanos e a imaginação urbana, Gorelik aponta que o imbricamento destas instâncias tem levado a elaboração de novo mitos a respeito da elaboração de políticas municipais, com ênfase ao valor identitário das intervenções bem como uma vaga apelação cultural que tenta incluir de maneira artificial as comunidades no processo de modificação das metrópoles. O autor cita como exemplo as políticas de “preservação” ou “resgate cultural”, que seriam na verdade um esforço de estetização dos guetos. Tal exemplo remete ao caso da intervenção governamental no Pelourinho, em Salvador/BA, citado durante uma das aulas de Comunicação e Culturas Urbanas. Mais uma vez conforme Gorelik, o que se observa nestes casos é uma alocação destes espaços urbanos visando propiciar o consumo turístico, com ênfase no estímulo da economia urbana e levando a realocação da população.
Uma verdadeira democratização dos espaços urbanos, afirma Gorelik citando Canclini, deve sustentar que se refaça o mapa, o sentido global da sociabilidade urbana. Não basta que os planejadores se apropriem irrefletidamente das ponderações dos imaginários urbanos.
“A crise da cidade se acompanhou de uma crise das idéias para pensá-la (...)” (GORELIK, p. 278).

Relatório do texto Sobre Sujetividades Diaspóricas e Ardis Cotidianos, de João Maia e Juliana Krapp

Apresentado em seminário por Afonso Brazolino, Bráulio Siffert, Danilo Borges e Marco Túlio

O texto de Maia e Krapp trata, em síntese, de algumas das apropriações e dos fluxos culturais feitos por uma população originalmente marginal, e conclui que essas ressignificações contribuem com a reivindicação de uma cidadania cultural. Para chegar a essa conclusão os autores observaram algumas atividades na Favela da Candelária, depositando mais atenções para a produção a partir de redes de tecnologia (mais especificamente, a partir das lan-houses).
A idéia principal é a de que um sujeito colocado à margem da sociedade e que, portanto, tenha sido obrigado a morar em alguma favela em condições básicas precárias reivindique seu espaço não só na sua comunidade, mas também, e principalmente, na cidade como um todo, fazendo dessa cidade seu “campo” dentro do qual promove fluxos comunicacionais, apropriações e ressignificações diversas. Das várias portas e janelas que se abrem para o sujeito desconexo “dar” e “receber”, a tecnologia é a que carrega o maior potencial. Nós do grupo, porém, acreditamos que a parcela desse potencial que tem sido utilizada é mínima (em termos, principalmente, qualitativos, mas também quantitativos): um marginalizado ter orkut e o acessar quase todos os dias não garante que esteja havendo uma reivindicação de espaço, nem um consumo produtivo e ativo, ao contrário, a utilização acrítica e bestial desse tipo de ferramenta (assim como o msn e o youtube) não vai muito além de uma reprodução também acrítica e bestial de uma ideologia de classe dominante que quer, cada vez mais, unificar e universalizar falsas e inúteis necessidades e vontades.
Que qualquer um possa, a R$1,00, ter acesso à internet perto de casa é, sem dúvida, um grande avanço, e longe de nós querer contradizer isso. Mas esse avanço, em relação à totalidade dos fenômenos culturais, sociais e econômicos mais amplos, é bem tímido. E o pior é que causa, em muitos jovens da periferia, por exemplo, uma ilusão de inclusão, de igualdade, de distribuição equânime de oportunidades e de perspectivas futuras em relação aos jovens da classe média que também utilizam a internet com os mesmos fins triviais.

abertura forumdoc.bh.2008


Olás,
Convido todos vocês para a sessão de abertura do forumdoc.bh.2008, amanhã, 27/11/08, 20h. Com o filme Crioulo Doido, de Carlos Prates Correia.

Nosso site com toda a programação está no www.filmesdequintal.com.br
E segue uma das duas vinhetas, tudo a ver com este blog http://br.youtube.com/watch?v=0Gdsp00y9HE&eurl=http://www.filmesdequintal.com.br/forumdoc2008/apresenta.html

Intervenções Juvenis Urbanas (Seminário)

Nesse artigo, a autora quer propor uma reflexão sobre um tema que vem ganhando maior relevância quando se pensa em práticas culturais, as intervenções juvenis urbanas. Assim ela chama todas as formas de apropriação e ressignificação que grupos de jovens possam realizar nos espaços urbanos, como pichações, graffitis, stickers e coisas do tipo.

Ela começa por recuperar como o interculturalismo crescente nos dias de hoje transformou e transforma as relações sociais, as identidades e comportamentos em uma metrópole. As cidades não são mais cenários homogêneos, onde apenas pessoas com idéias e repertórios simbólicos mais ou menos semelhantes convivem. Em tempos de cultura globalizada e desterritorializada, vive-se uma tensão entre modelos opostos de laços sociais. De um lado a tradição, os vínculos de bairro e vizinhança; de outro a ruptura, redes imaterias, laços difusos. Velocidade e lentidão, o local e o mercadológico.

Entre todo tipo de pessoas que ocupam e circulam pelas ruas e bairros dessa cidade múltipla e cindida, os jovens se destacam pela suas formas peculiares e mais visíveis de apropriação e práticas de uso dos espaços públicos.

Foi Benjamin quem primeiro percebeu a força que as culturas de rua vinham ganhando com o as concentrações urbanas, enquanto as técnicas industriais se aprimoravam e se difundiam. A reprodutibilidade que essas técnicas trouxeram permitiu que as produções gráficas se multiplicassem com rapidez, e se espalhassem pelos cenários das metrópoles. Na mesma esteira dessas mudanças, o imaginário popular passa a incorporar as imagens e os produtos culturais da cultura de massa.

Com as guerras mundiais, a proliferação de cartazes e pôsteres de propaganda confirmou esses meios como formas potentes de alcance popular e afirmação de idéias. Todas as turbulências e novidades da década de 60 – Vietnã, protestos, revolução cubana, música e drogas – deram um impulso ainda maior ao uso de pôsteres e cartazes pelos muros da cidade. Surgia a cultura Underground, contra o Establishment

O idealismo e a psicodelia foram se transfigurando, mas a cultura jovem, a contestação e a resistência ao consumismo passivo não deixaram de gritar seus slogans e defender sua busca por uma identidade autêntica, através das diversas manifestações que haviam aflorado e ganhado as ruas com a geração de 60.

Nos anos 80, surge o Hip Hop, que, além de música nova, trazia também novas roupas, novas formas de comportamento e intervenções nas paisagens urbanas. O grafiti vai aparecer nos becos de Nova York e se tornar a expressão gráfica do Hip Hop


Numa concepção mais ampla de cultura, entendida como práticas culturais que organizam a vida cotidiana, bem como o lugar do enfrentamento, onde aparecem as relações de poder, a cultura de rua e as intervenções juvenis serão formas privilegiadas para se analisar e buscar entender a lógica dessa resistência.


O estudo das culturas jovens de rua demanda uma nova metodologia, que possa articular e interpretar conjuntamente as práticas materializadas pelas ruas e os discursos que dão significado coletivo a essas mesmas, da mesma forma diferenciando qual deles se filia a esta ou àquela manifestação.


Primeiro, é preciso entender que os jovens têm uma relação particular e variada com as ruas e a cidade. É preciso mapear por onde passam esses jovens, em seus fluxos que se misturam a outros fluxos, nas correntezas urbanas. Aonde e como eles vão se socializar, quais são seus referenciais de identidade, suas linguagens, seu comportamento.


Conhecer os locais por onde os jovens passam e fazem suas apropriações - tanto materiais, quanto apenas presenciais, em grupo-, para então reter essas manifestações efêmeras, em fotos que vão resistir ao tempo. Isso vai tornar possível a comparação no tempo e no espaço, à partir desse histórico acúmulo de registros. Então será possível decifrar, o que dizem os jovens, como eles dizem e como ocupam a cidade.


Nova investigação pode surgir daí, articulando cidade e culturas juvenis, numa perspectiva de cidade fragmentada, mas que pode ser apropriada e tomada para si, pelos diferentes grupos.



Daniel Bayão

A cidade é a mensagem.E o meio também.
















A princípio pode parecer um trocadilho bobo,com um quase clichê nos estudos da comunicação. Mas a frase de Mcluhan consegue em sua simplicidade dar conta de valorizar o que a Milene diz dos diálogos públicos no artigo Diálogos Públicos de Belo Horizonte: os Processo Comunicativos e a Diversidade de Tempos, Espaços e Práticas Culturais.


Ao analisar as inscrições presentes no centro de BH, é possível perceber a potencialidade que representação das mensagens, pichações, grafittis e stikers têm de dar conta da experiência de quem por ali passou e deixou seu registro, e a partir dele pode re-significar aquele espaço urbano – (des)territorialização. Andar pela cidade e prestar-se aos registros presentes nela é um processo de entendimento e relacionamento com aquele ambiente de forma menos superficial e mais intensa. A abordagem sobre os objetos pela proposta de Certau em analisar as relações

sociais a partir do entendimento de cultura como práticas vivenciadas no cotidiano.


Legal ou não, marginal ou agressivo, as pichações dão conta do conflito, do choque e de toda a diversidade que marca a interculturalidade a sociedade urbana, cujo escopo é integrado de vozes e discursos que se mostram presentes no meio-cidade.


Por Ricardo Augusto Lopes

“As imagens e a cidades vão bem juntas”

Em “A Paisagem Urbana”, o cineasta Wim Wenders (Asas do Desejo, Buena Vista Social Club, dentre outros) discute, tendo como referência sua experiência no cinema, a relação existente entre as imagens e as cidades. Tal relação é delineada por Wenders como de extrema proximidade, talvez se desenvolvam paralelamente. À medida em que a cidade muda, que os pequenos espaços de refúgio que dão lugar aos arranha-céus que afugentam; a imagem também muda. Esta perde sua unicidade no contexto da expansão da tecnologia. A autoria individual dá lugar ao replicável e anômino. E é justamente no encontro da imagem com a cidade, na conformação das paisagens urbanas, que se evidencia tanto o desaparecimento do lugar do descanso em sua dimensão física, de um recanto em meio ao caos urbano, bem como em sua dimensão imagética, o lugar de repouso do olhar, uma imagem que se diferencie em meio à paisagem imponente e massificada das cidades.
Em seu texto, Wenders cita de maneira recorrente a cidade de Tóquio, como sendo esta uma cidade que em meio ao ruído urbano conserva ilhas de tranqüilidade. E essa observação me levou a dois vídeos (ambos disponíveis somente em inglês, infelizmente).
O primeiro é um trecho do documentário de Wenders, “Tókio-Ga” (1985), sobre o cineasta Yasujiro Ozu (Pai e Filha). Neste trecho (http://www.youtube.com/watch?v=rx3fvyWRQjE) Wenders conversa com o também cineasta alemão Werner Herzog (O Homem Urso) a respeito da pureza das imagens, observando Tókio do alto de uma torre. Para Herzog, restam poucas imagens para serem descobertas em meio às construções de uma grande cidade. Imagens adequadas, para Herzog, seriam aquelas em sintonia com a civilização, que ressonam o que há de mais profundo em nós.
O segundo vídeo (http://www.youtube.com/watch?v=tZNJyogkAEw) é um trecho de um documentário britânico a respeito de Pequim. Neste trecho é tratada a intervenção urbana que precedeu as Olimpíadas e a maneira pela qual os centenários distritos e ruas tradicionais da cidade (hutongs) forçosamente vem dando lugar a novas estradas e modernos edifícios. À maneira das illhas de Wenders.

João Paulo Carvalho

"Só vou ao centro por obrigação"

Na nossa ida ao Centro, melhor, Hipercentro, como eu não tinha nenhum recurso digital, voltei minha atenção para as formas de comunicação mais simples e mais abundantes do trajeto, as formas gráficas. Bem, como a maioria das pessoas que andam pelo centro, nunca tinha voltado minha atenção ao bombardeio de cartazes e todo tipo de mensagem visual que disputam o olhar dos milhares de passantes.

Achei interessante como as mensagens se misturam, independente do conteúdo, não existe nenhuma preocupação em ocupar espaços específicos para cada tipo. Pelo contrário, o que vemos são cartazes de campanha pregados junto a mensagens religiosas e propagandas de motel barato, num "mistureba" que, pra mim, nada mais é que a expressão visível do caos que é o centro de qualquer grande cidade. Assim como o shopping popular Oi (apoque), os anúncios e cartazes do Centro têm de tudo um pouco, é só procurar.

Naturalmente, que outro tipo de veiculação alcançaria potencialmente tanta gente por um preço tão barato? Cada pedacinho de tapume, cada parede, cada poste são aproveitados. As mensagens se "acotovelam" nos espaços apertados, e não há muita consideração se for preciso colar onde já esteja ocupado . O importante é dar o recado. me faz lembrar o tipo de publicidade que as grandes lojas de varejo tentam fazer, berrando na televisão, "grudando" musiquinhas na cabeça do espectador. O estímulo visual é mesmo muito grande, e seria muito exaustivo tentar prestar atenção em tudo que se vê. É como estar num shopping center, as luzes, as cores, a multidão; tudo pede seu olhar, a toda hora alguém quer te vender, ou te convencer ou te convocar pra alguma coisa.

Alguns parecem mesmo apelar pro cafona, pro quase ridículo. É tão estranho, imaginem, estar indo almoçar e se deparar com uma cabine de "Streep"- tease, super higienizada. É o tipo de "conveniência" que só se encontra no centro, tanto faz ao lado de uma loja de roupas ou de uma livraria evangélica. Uma constelação de imagens e escritos que concorrem pela visibilidade dos apressados traseuntes. Olhando com atenção, dá até pra notar quando alguém não acostumado está passando, um semblante meio tenso, uma pressa inconsciente- "perái, por que que eu tô correndo?"

Quanto mais berrantes as cores do graffiti, melhor. Cartazes com letras rosa choque têm mais apelo, assim como os homens placa, assim como a pixação no alto do prédio. Nada como uma foto de mulher semi-nua pra ganhar pelo menos uma olhadinha. Se precisar de 144 camisinhas, no centro você encontra em promoção, diz o cartaz em cima da marquise do boteco. Há quem veja humor e até um estranho lirismo nisso tudo.

Eu pessoalmente acho muito cansativo ir ao Centro, tendo que prestar atenção a cada passo, desviar, correr no sinal, olha isso, olha aquilo, uma paradinha aqui, um mágico ali, promoções anunciadas pelo microfone... São muitos apelos, que se apropriam como podem de cada espaço vazio, fazendo do centro um grande mercadão popular e meio de sobrevivência.

Daniel Bayão

Errando o caminho, com prazer


Errante: corporeidade, uma forma de resistência à espetacularização. É o andar despretensioso e consciente pela cidade. O errante é aquele que se preocupa mais com as ações e os percursos. Qualquer um pode ser errante.
Ao fim do seminário deixamos algumas perguntas ainda (e talvez, sempre) sem respostas. A primeira é uma dúvida sobre até onde o urbanismo conversa com o errante para criar uma cidade mais "vivenciada"? Ao longo do texto, e também em outras leituras em sala de aula, ficou claro para nós a crítica ao urbanismo enquanto uma atividade elaborada e realizada de cima para baixo.
Quando um arquiteto ou urbanista planeja uma cidade, normalmente, ele pega o mapa do local e delineia ruas, avenidas e quarteirões a partir daquele pedaço de papel. O profissional não desce a campo para ver as relações estabelecidas na cidade e quais usos as pessoas fazem de um espaço vazio, um banco, uma árvore, um meio-fio. Esses “praticantes ordinários” da cidade, como dizia Michel de Certeau, eram afetados pela visão “do alto” dos urbanistas quando o espaço em que viviam era transformado, reconfigurado por um novo projeto.
Descer a campo nos parece uma alternativa viável para que o urbanista consiga entender como a cidade é vivenciada e tentar, dessa forma, não só modificar o espaço, mas potencializar os usos possíveis. E fazer isso de uma forma que dialogue com quem “experimenta” diariamente tal espaço.
A segunda pergunta, no entanto, traz mais complexidade à primeira resposta: O sentimento de experimentação da cidade tem a ver com a sua forma ou com um sentimento de "se deixar levar"? Paola Jaques mostra, no texto, como o errante o é de forma consciente. O praticante ordinário torna-se errante por um desejo de experimentar a cidade de uma forma diferente, não habitual. Ele vai realizar essa atividade subjetiva e singular esteja onde estiver.
Será que, para o errante, uma cidade mais ou menos incorporada aos movimentos de seus cidadãos faz diferença para a realização dessa prática? Acreditamos que sim. Em pequenos exemplos podemos registrar nossa opinião. Ruas largas e calçadas estreitas: pequeno espaço para movimentação do errante e freqüentes interrupções (postes, lixeiras e outros objetos no meio do caminho, pessoas trombando, excesso de publicidade). Nenhum banco ou espaço de parada: o errante também vivencia a cidade parado, observando o movimento.
Quanto mais próxima a noção de mercadoria a ser consumida, menos a cidade pode oferecer ao errante. Além disso, a atuação desses praticantes contribui para um urbanismo mais incorporado. O movimento é, então, de mão-dupla: uma cidade que oferece essa possibilidade dá chance ao errante de pessoalizá-la.

Grupo Artigo Corpografias Urbanas:
Alexandra Duarte
Ana Flávia Oliveira
Juliana Galvão
Júnea Casagrande
E agora vão o links da nossa apresentação para quem quiser ver!

Saída a campo - Atenção

Tentei refletir minha experiência no centro da cidade com o vídeo abaixo. A primeira impressão que tive era de uma separação clara entre a comunicação formal e daquela que utiliza-se das brechas. No entanto, revendo o que havia filmado, a impressão que tive foi de uma confusão muito grande, meio que um sufocamento em meio aos variados esforços pela nossa atenção. Com isso, a sensação final que tive e que tentei passar é a de que as intervenções como o grafite podem eventualmente se confundir com os demais esforços de comunicação tradicionais, deixando de ser uma espécie de alívio em meio a todo o excesso multicolorido.
A trilha não é diretamente relacionada ao tema, mas acho que também expressa um pouco a sensação que tive na saída.



João Paulo Carvalho

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Michel de Certeau - Caminhos

Caminhar: ato de enunciação. É o que Michel de Certeau defende em seu texto Caminhadas pela cidade. Para fazer essa afirmação, o autor compara o ato pedestre, de andar pela cidade, ao falar. Assim, o caminhar é uma enunciação pois o pedestre se apropria do sistema topográfico (como nos apropriamos da língua), faz do lugar um espaço (como fazemos da língua um som) e se relaciona com a cidade através dos seus movimentos (como nos relacionamos com o outro através da língua).

Mas o quê enunciamos, afinal? Pensando nessa questão, passei a reparar nas pessoas que andam pela cidade. Parei no banco da Praça da Raul Soares e fiquei a observar os transeuntes que passavam, principalmente, do outro lado da calçada. A maioria andava depressa e dava a impressão de estarem atrasadas, com a pretensão de chegar a um lugar específico. Outros passavam observando a região, principalmente a praça, agora reformada. O andar contemplativo mostrava um querer-conhecer. Pareciam forçar a memória para que, mais tarde, pudessem se lembrar de cada detalhe do local. Alguns, principalmente mulheres, tinham o andar duro. Era o medo de estar ali, perceptível, principalmente, pela força com que uma senhora segurava sua bolsa e olhava para trás de 5 em 5 minutos, como se estivesse sendo seguida.

Os movimentos eram feitos consciente ou inconscientemente. Não se sabe ao certo. Só os pedestres podem avaliar e nos dizer. E cada pessoa, mesmo que enunciasse quase a mesma coisa que um outro pedestre, fazia um caminho diferente. Assim como diz Michel de Certeau, “se é verdade que as florestas de gestos manifestam, então sua caminhada não poderia ser detida num quadro, nem o sentido de seus movimentos circunscritos num texto.” (CERTEAU. 2004:182).

É impossível descrever os detalhes do trajeto de uma caminhada, por quais caminhos passou, que gestos fez ao descer o meio-fio, aonde seus pés pararam para esperar o sinal abrir. O caminho que a pessoa percorre jamais será o mesmo. No instante só que ela acaba de dar um passo, não mais conseguirá reproduzi-lo.

Isso porque existe uma retórica da caminhada. A arte de moldar percursos, que implica estilos e usos. O estilo conota o que é de cada um, o singular. O uso, por sua vez, remete a uma norma, o que é normalmente feito. “Eles se cruzam para formar um estilo do uso, uma maneira de ser e maneira de fazer.” (CERTEAU. 2004:180).

Para além dos diferentes estilos e usos, a prática do espaço pode provocar o desvio do literal, desvio do sistema. O planejamento urbanístico da cidade prevê para os pedestres um caminho a ser seguido, um obstáculo na calçada a ser desviado e outras marcas definidoras do caminhar. O pedestre pode, no entanto, desobedecer. Andar por cima do obstáculo e fazer atalhos. A cidade impensada, assim, floresce. O campus da UFMG está cheio de exemplos de como o pedestre pode modificar o trajeto. Pode observar: todo gramado com um caminho em terra está ligando a calçada a algum prédio. Uma forma mais rápida de chegar a aula antes da chamada. Por quê não?

A Praça é nossa

Em meio aquela muvuca da Praça Sete, velhinhos jogavam dama. Era um contraste tão grande que a gente ficava na dúvida se eles estavam realmente se movendo. Um pastor gritava e gesticulava loucamente, mal dando tempo para os toureiros que estavam atrás de mim. Fiquei impressionada com a quantidade de pessoas machucadas e mais impressionada ainda com a minha aptidão, devido a minha condição de “muletante”, de perceber essas pessoas. Um mundo de sacolas plásticas! Acho que de dez que passavam, sete carregavam alguma sacolinha. Milhares de santinhos e jingles políticos se sobrepunham e o pastor continuava gritando. Alguns riam, vários paravam e um monte de gente fazia cara feia. Em uma hora na Praça, metade de BH sentou do meu lado. Puxavam papo, conversavam, liam (a sua leitura e a dos outros!), cochilavam e esperavam. Perguntavam sobre a minha roupa ( uma dona cismou que a minha calça estava ao contrário), sobre o meu pé engessado.
Mulheres bem vestidas, homens de terno, cabeludos, estudantes, bicicletas Ceci ao lado de mountainbikes, garis, funcionários de algum frigorífico. Quem eram essas pessoas? Fiquei pensando que quem passa por ali deve ter pressa, ou não, ter pouco dinheiro,ou não, trabalhar em algum escritório chique (onde, meu Deus?), ou não, não ter nada pra fazer, ou não. Um papai Noel passou por mim e por um momento pensei que o cara ao lado fosse um traficante ou um viciado. Ele era mais velho e bem maltrapilho. Conversavam um papo estranho sobre alguma coisa em alguma casa que a policia estava atrás. Um grandão chegou dando tapa e algum tempo depois, Lelé, como ele se chamava , voltou mancando e com a cabeça ferida. “Quer guardar esse pedacinho de cordinha, não? Tem utilidade.” – ele perguntou para a moça ao lado. E eu fiquei com muita dó.
Um dos velhinhos da Praça, daqueles que já fazem parte do cenário, chegou de mansinho e já foi perguntando o que eu tinha arranjado no pé. Seu Etienne tem 85 anos, é viúvo e mora com a filha e os netos. Foi da Marinha e jura que os navais (nossos fuzileiros) atravessam com os dentes uma corda entre dois prédios. Ele acha que Europa tem cultura mas não produz alimento suficiente, que a América do Norte é grande mas também não produz alimento suficiente. Acredita que em São Paulo só existe mulher ordinária e cabra safado. Não gosta de comida mineira, caiu no banheiro há pouco tempo – nada grave – e viajou para Bahia só para tirar segunda via da carteira de identidade. Porque Barboza se escreve com “Z” e o escrivão daqui era burro. Seu Etienne Barboza vai a Praça para encontrar os conterrâneos da Bahia.
Acho que no final, o que me impressionou foi como uma praça pode ao mesmo tempo ser tantas. Cada um escolhe e faz a sua Praça. A Praça do seu Etienne é um lugar de encontro, a Praça do pastor é lugar de pregação, a Praça do toureiro é lugar de trabalho, a Praça da Adriana é lugar de pesquisa....


postado por Adriana Costa

Deriva no centro














Com uma câmera fotográfica em mãos, procurei fotografar diferentes formas de comunicação realizadas por meio de impressos em geral, mas acabei me voltando principalmente para cartazes. Esse é um meio muito comum de comunicação que se estabelece nas ruas, especialmente no centro da cidade, onde há grande fluxo de pessoas, o que facilita a disseminação de qualquer tipo de mensagem pelos sujeitos.

Havendo um grande público para se chamar a atenção, existe também uma quantidade enorme de cartazes em profusão, que se espalham sobre os mais diversos suportes, não respeitando ou seguindo um tipo pré-determinado de organização. Assim, é muito freqüente encontrar vestígios de cartazes antigos, pedaços rasgados, sobreposições de mensagens, como também cartazes sobrepostos competindo por um espaço. Nesse cenário, qualquer espaço torna-se passível de se tornar um suporte para tais mensagens.

O conteúdo das mensagens apresenta naturezas diversas, sendo encontradas as mais diversas temáticas. São mais freqüentes aqueles cartazes em que se oferece algum tipo de produto ou serviço, funcionando assim como uma espécie de propaganda, sendo um meio utilizado tanto a favor de pessoas anônimas, quanto a favor de empresas conhecidas no mercado. Mas também é possível encontrar mensagens sem pretensões comerciais, relacionadas com temáticas de protesto, críticas de governo, expressão artística e de idéias.

A confecção dos cartazes e mensagens é outro fator heterogêneo. Pode-se dizer que há uma certa predominância de cartazes monocromáticos e que trazem apenas corpo de texto, se abstendo do uso de imagens. Mas é possível também encontrar cartazes manuscritos ou produzidos de outras formas, como por exemplo pela técnica de stêncil, além de cartazes mais bem elaborados, com imagens e várias cores de impressão.

A manifestação de mensagens em cartazes e impressos representa, então, uma forma de comunicação urbana comum, que pode ser utilizada por qualquer pessoa, uma vez que se encontram modos muito simples de produção. A rua e seu entorno tornam-se um meio de publicidade, um espaço de apropriação desses sujeitos que buscam comunicar com o público através de suas mensagens vinculadas aos mais diversos suportes, numa perspectiva que enxerga a rua não somente como local de circulação, mas também de contemplação e de interações comunicativas.


Caio Couto Pereira