quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Intervenções Juvenis Urbanas (Seminário)

Nesse artigo, a autora quer propor uma reflexão sobre um tema que vem ganhando maior relevância quando se pensa em práticas culturais, as intervenções juvenis urbanas. Assim ela chama todas as formas de apropriação e ressignificação que grupos de jovens possam realizar nos espaços urbanos, como pichações, graffitis, stickers e coisas do tipo.

Ela começa por recuperar como o interculturalismo crescente nos dias de hoje transformou e transforma as relações sociais, as identidades e comportamentos em uma metrópole. As cidades não são mais cenários homogêneos, onde apenas pessoas com idéias e repertórios simbólicos mais ou menos semelhantes convivem. Em tempos de cultura globalizada e desterritorializada, vive-se uma tensão entre modelos opostos de laços sociais. De um lado a tradição, os vínculos de bairro e vizinhança; de outro a ruptura, redes imaterias, laços difusos. Velocidade e lentidão, o local e o mercadológico.

Entre todo tipo de pessoas que ocupam e circulam pelas ruas e bairros dessa cidade múltipla e cindida, os jovens se destacam pela suas formas peculiares e mais visíveis de apropriação e práticas de uso dos espaços públicos.

Foi Benjamin quem primeiro percebeu a força que as culturas de rua vinham ganhando com o as concentrações urbanas, enquanto as técnicas industriais se aprimoravam e se difundiam. A reprodutibilidade que essas técnicas trouxeram permitiu que as produções gráficas se multiplicassem com rapidez, e se espalhassem pelos cenários das metrópoles. Na mesma esteira dessas mudanças, o imaginário popular passa a incorporar as imagens e os produtos culturais da cultura de massa.

Com as guerras mundiais, a proliferação de cartazes e pôsteres de propaganda confirmou esses meios como formas potentes de alcance popular e afirmação de idéias. Todas as turbulências e novidades da década de 60 – Vietnã, protestos, revolução cubana, música e drogas – deram um impulso ainda maior ao uso de pôsteres e cartazes pelos muros da cidade. Surgia a cultura Underground, contra o Establishment

O idealismo e a psicodelia foram se transfigurando, mas a cultura jovem, a contestação e a resistência ao consumismo passivo não deixaram de gritar seus slogans e defender sua busca por uma identidade autêntica, através das diversas manifestações que haviam aflorado e ganhado as ruas com a geração de 60.

Nos anos 80, surge o Hip Hop, que, além de música nova, trazia também novas roupas, novas formas de comportamento e intervenções nas paisagens urbanas. O grafiti vai aparecer nos becos de Nova York e se tornar a expressão gráfica do Hip Hop


Numa concepção mais ampla de cultura, entendida como práticas culturais que organizam a vida cotidiana, bem como o lugar do enfrentamento, onde aparecem as relações de poder, a cultura de rua e as intervenções juvenis serão formas privilegiadas para se analisar e buscar entender a lógica dessa resistência.


O estudo das culturas jovens de rua demanda uma nova metodologia, que possa articular e interpretar conjuntamente as práticas materializadas pelas ruas e os discursos que dão significado coletivo a essas mesmas, da mesma forma diferenciando qual deles se filia a esta ou àquela manifestação.


Primeiro, é preciso entender que os jovens têm uma relação particular e variada com as ruas e a cidade. É preciso mapear por onde passam esses jovens, em seus fluxos que se misturam a outros fluxos, nas correntezas urbanas. Aonde e como eles vão se socializar, quais são seus referenciais de identidade, suas linguagens, seu comportamento.


Conhecer os locais por onde os jovens passam e fazem suas apropriações - tanto materiais, quanto apenas presenciais, em grupo-, para então reter essas manifestações efêmeras, em fotos que vão resistir ao tempo. Isso vai tornar possível a comparação no tempo e no espaço, à partir desse histórico acúmulo de registros. Então será possível decifrar, o que dizem os jovens, como eles dizem e como ocupam a cidade.


Nova investigação pode surgir daí, articulando cidade e culturas juvenis, numa perspectiva de cidade fragmentada, mas que pode ser apropriada e tomada para si, pelos diferentes grupos.



Daniel Bayão

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