domingo, 23 de novembro de 2008

Dialugar



Pensar a cidade como espaço público é reconhecer seu papel como um ambiente aberto para as vozes e discursos de todos que por ela passam, mas que também como espaço de constante interação. Estar na cidade é, antes de tudo, produzir discursos e é por essa potencialidade que o sujeito busca dialugar ( interagir com o espaço e fazer com seu seu discurso esteja ali presente).


Posso dizer que a minha experiência na deriva serviu para, acima de tudo, reforçar essa percepção quanto ao espaço urbano. O centro de BH não pode ser visto apenas como área-comum para sua população, mas um lugar de apelo, de busca pelo espaço e atenção de quem por ali passa. São vozes e sujeitos que possuem vidas próprias. Necessidade e objetivos específicos. Carências e anseios, vontades e saudades. Cada um com seu modo de ser, com a sua maneira de se “fazer presente”. É justamente essa busca por "mostrar-se presente" naquele ambiente, por achar o lugar e o momento em que o discurso será ecoado e escutado, que marca os meus registros da deriva.

Na verdade, acho que conseguiria falar de muitas coisas, porque a experiência com a saída de campo é ampla e produtiva. Mas essa busca pelo espaço, as formas com que os sujeitos procuram fazer seus discursos e ações existentes, bem como a relação dessa busca incansável por espaço e reconhecimento da cidade como espaço do diálogo; isso sim me fez olhar para todo o material e conseguir organizar minha lógica.

Por mais que ainda pareça amplo, essa abordagem seria uma alternativa para tentar dar conta de um universo de forma não simplista ou equivocada. Fazer-se presente na cidade é buscar de alguma forma ou de outra tornar-se presente em meio ao estranho, ao conflituoso. E tentar achar na quina da parede daquele prédio, naquele sinal de trânsito o seu lugar, a forma de mostrar que ali tem alguém que estava falando para quem quiser ouvir ou ignorar.





As formas são diversas, assim como as relações ali estabelecidas, mas as apropriações se fazem presente – sem necessariamente estarem legítimas – e a própria técnica vira um discurso. Não há limite entre o legal e o marginal, mas deve-se explorar as potencialidades daquele ambiente no qual a caminhada é um verdadeiro discurso. E assim cada sujeito busca dialugar com e na cidade, fazendo do espaço urbano esse ambiente da complexidade e da disputa.






Por Ricardo Augusto Lopes

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