quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Samba do Criolo Doido

Nunca gostei muito de passear pelo Centro de Belo Horizonte. Uma confusão, um mundo de pessoas se esbarrando, barulhos demais, cheiros demais. Sempre achei isso tudo um “samba do criolo doido”. E acho que não tive olhar de pesquisador suficiente para compreender tudo isso mais a fundo em uma deriva cartográfica.

Talvez eu precise trabalhar mais a arte do “saber olhar”, ao invés de querer engolir o mundo com os olhos, ver tudo ao mesmo tempo. Talvez me falte foco (não no que se refere apenas à deriva cartográfica). Quem sabe seja déficit de atenção.

O fato é que andei por aquelas ruas do centro, anotando várias coisas, tentando aguçar meus sentidos, procurando algo incrível para olhar, e depois de quase duas horas sai de lá sem saber o que tinha me chamado mais atenção. As cores, os barulhos, os cheiros ou as pessoas?

Acho que toda essa miscelânea que me repelia, acabou por me atrair. Aos meus olhos, o que torna o centro tão peculiar é exatamente essa concentração de gente diferente, de discursos distintos, dos mais variados produtos. Lojas de roupa, açougues, cinemas pornôs, motéis, hotéis, escritórios, restaurantes, lojas de tecido, lanchonetes, lojas de eletrodomésticos. Uma coisa bem ao lado da outra. Executivos, toureiros, estudantes, velhos, jovens, homens, mulheres, pastores, eleitores, políticos. Todos caminhando lado a lado. Um carro passa tocado funk, outro toca trance na maior altura. Uma loja, para atrair (ou não) os clientes, coloca no som um sertanejo. Outra opta pelo axé. E tem também pop rock. Alguns falam no mega-fone, outros gritam no gógó mesmo. Prédios bem conservados, outros nem tanto. Edifícios altos ao lado de casas pequenas. Lojas amarelas, em frente a outras vermelhas, azuis e verdes.

Mesmo com as críticas feitas sobre a ação do sistema e a atuação urbanística que interferem nas possibilidades de vivência e experimentação dos indivíduos que habitam a cidade cotidianamente, acho que não tem como negar que o Centro é um lugar, de certa forma, democrático.

Pode não ter o mesmo espaço para todo mundo. Pode não ser tão fácil se apropriar, se manifestar e se fazer notar. Mas acho que de alguma forma, o centro de BH é um espaço no qual a ação social fala forte e alto. Um local em que os atores sociais conquistaram, e vem constantemente conquistando, como palco de suas expressões e anseios.

É... Posso falar que apesar da confusão, que inegavelmente existe, o exercício de alteridade intrínseco à experimentação do centro da cidade, de alguma maneira estranha, conseguiu me encantar.


Postado por Júnea Casagrande

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