Pessoal,
Nós saímos da última aula com a sensação de que nós não conseguimos nos fazer entendidas. O texto da Heloisa Neves não é fácil, mas nós não gostaríamos que ele parece incompreensível!
Aqui seguem algumas considerações gerais sobre o texto, e ao final, uma pequena discussão sobre o que a autora chamou de “mapa do Encontro” que, talvez, ajudem um pouco na leitura do texto.
A idéia de MAPA é estudada em diferentes áreas do conhecimento, e em cada uma delas tem sua definição alterada. O consenso se dá apenas quanto ao caráter representativo dos mapas: mapear é representar alguma coisa. Para a autora, o mundo da representação é um mundo amplo que envolve criação e interpretação, e por isso, essa idéia de mapeamento/representação está presente em toda ação cognitiva humana.
A idéia de mapa cognitivo, muito usada dentro das ciências cognitivas, difere da noção mais difundida de mapa, que é a cartográfica. Ao contrário dos mapas cartográficos utilizados na engenharia, por exemplo, que são representações visuais técnicas, com linguagem objetiva, padronização de símbolos, legenda, uso de escalas e o respeito de regras e formas pré-determinadas – que visam a comunicação eficiente da informação – os mapas cognitivos são representações corporais internas, que emergem da relação entre objeto e corpo/mente humano.
A partir de três autores (Gilles Deleuze, António Damásio e Francisco Varela), principalmente, Heloisa discute o processo de formação de mapas, entendendo o mundo contemporâneo como algo dinâmico, que é construído diariamente pelos pensamentos dos corpos que nele habitam e, portanto, em constante fluxo entre o dentro e o fora desses corpos. Se apropriando da discussão de Damásio, Heloisa nos mostra que, de um modo geral, os mapas seriam diagramas formados pelos indivíduos a partir do contato e da percepção do objeto, e, como cada um tem uma estrutura interna particular, percebe os objetos a sua própria maneira. O cérebro, como sistema criativo, permite que as pessoas enxerguem o mundo por metáforas, ou seja, cada um constrói suas representações (mapas) particulares do mundo através de seus próprios parâmetros, sem que essas construções correspondam fielmente ao mundo em si - elas não são cópias.
Toda a representação é feita em tempo real, e o contato que os homens têm com o mundo é mediado por seus sentidos e pelas representações que dele são feitas. O processo de mapeamento é, portanto, permeado de interatividade: um mapa não se faz objetivamente, ele depende da interação entre singularidade de um corpo e objetualidade de um objeto e esse é um processo em movimento, onde corpos e ambiente interagem em tempo real. Deleuze, inclusive, reforça a ênfase que deve ser dada à idéia de processo e movimento na construção de mapas, mais do que à imagem formal, estática. Esse autor distingue mapa (processo, forma móvel de organização de informações) de uma outra categoria, o decalque, que para ele é a imagem cristalizada. Dessa forma, representar não seria fixar imagens, mas deixar que essas mantenham seu próprio movimento, e o mapa não seria a reprodução do objeto, mas uma criação. Para Deleuze, as representações e o mundo são criados constantemente pelos homens.
Ao que se pode perceber, as teorias abordadas por Heloisa Neves se distanciam das visões realista e idealista que até pouco tempo discutiam o fenômeno da representação, tendendo mais a uma abordagem que enxerga uma co-determinaçao entre ambiente e seres vivos.
O que gostaríamos de enfatizar nesse momento, é a possibilidade de discutirmos o processo de mapeamento a partir de nossas próprias experiências, que, ao que nos parece, é de certa forma uma discussão a respeito das formas de encontro, apropriação e entendimento que nós temos em relação com o mundo. O “mapa do Encontro”, proposto pela autora, consegue expor de maneira menos teórica esse processo. Quando você lê essa postagem, você sabe e sente que é você que está lendo, que você está segurando o mouse e que você está produzindo os pensamentos que se formam na sua mente. Você pode levantar e ir ao banheiro, fazer um comentário no blog, prender o cabelo ou até mesmo desligar o computador. Pode decidir pular algumas frases e reler outras. Você faz parte dessa cena e pode atuar nela como desejar. Ainda que todos os alunos da disciplina Comunicação e Culturas Urbanas leiam esse texto, o mapa que você construiu nesse momento, ou seja, o conteúdo e a forma pela qual esse conteúdo foi apreendido, é único. Isso porque de acordo com as idéias apresentadas no texto, os mapas surgem a partir da interação de um indivíduo singular – nesse caso, você – com o mundo.
Palpitem, critiquem, comentem. Gostaríamos de saber o que vocês conseguiram entender.
Texto: NEVES, Heloisa. O mapa [ou] um estudo sobre representações complexas. 2008
Adriana Costa e Isadora Vilela
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
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