Ao reler o texto “Os usos das calçadas: contato”, de Jane Jacobs, fiquei pensando bastante em coisas que presencio aqui no meu bairro (moro no Caiçara) e resolvi aproveitar para fazer o comentário do texto e também falar sobre algo mais prático.
Sempre morei no mesmo lugar desde que nasci e dessa forma, pude acompanhar de perto a vida social do bairro, seu crescimento e as mudanças que aconteceram nesse tempo. Durante a minha infância eu brincava muito na rua – daquelas brincadeiras de subir em árvore, jogar queimada, pega-pega e por aí vai. Eu também participava dos eventos da igreja – catecismo, coroações, missas, etc. – e conhecia todos os donos de padarias, farmácias, mercadinhos ou qualquer outro comércio do da redondeza. Além disso, também conhecia meus vizinhos e alguns até me chamavam para nadar em suas casas. E era assim com todo mundo. As pessoas participavam das serestas promovidas pela igreja, das festas de São João na rua de cima e até faziam encontros semanais da casa das vizinhas para trocar receitas.
Mas aí o bairro foi crescendo. Primeiro foi o Colégio Anchieta que virou faculdade (Newton de Paiva) e parece que tudo em volta tentou seguir o mesmo ritmo. O comércio cresceu e se tornou sofisticado: as pequenas padarias sumiram, os açougues fecharam e cederam espaço aos grandes supermercados, assim como as farmácias. Até mesmo a igreja foi reformada e ganhou um ar mais “moderno”. . “Quando uma área da cidade carece de vida nas calçadas, s moradores desse lugar precisam ampliar sua vida privada se quiserem manter com seus vizinhos um contato equivalente. Devem decidir-se por alguma forma de compartilhar, pela qual se divida mais do que na vida das calçadas, ou então decidir-se pela falta de contato” (JACOBS, p.67). Meu vizinhos escolheram se recolher e de repente parecia que eu não os conhecia mais – claro que alguns se mudaram, mas os que ficaram, estavam cada vez mais trancados dentro de suas casas. As festas da igreja diminuíram e os encontros para trocar receita acabaram.
Não sei, mas me parece que os pequenos comércios propiciavam um contato maior entre as pessoas que moravam no bairro. “A confiança na rua forma-se com o tempo a partir de inúmeros pequenos contatos públicos nas calçadas” (JACOBS, 69). O meu bairro que parecia uma cidade de interior “finalmente” adequou-se a dinâmica da cidade. Janelas com grades, cercas elétricas e nada de bom dia ao vizinho.
Em seu texto, Jacobs faz referência às mudanças causadas por um planejamento urbano. Aqui no bairro as modificações aconteceram de forma mais “natural”, mas da mesma maneira, trouxe grandes modificações para a vida social no bairro.
Postado por Ana Flávia de Oliveira
terça-feira, 18 de novembro de 2008
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