Na nossa ida ao Centro, melhor, Hipercentro, como eu não tinha nenhum recurso digital, voltei minha atenção para as formas de comunicação mais simples e mais abundantes do trajeto, as formas gráficas. Bem, como a maioria das pessoas que andam pelo centro, nunca tinha voltado minha atenção ao bombardeio de cartazes e todo tipo de mensagem visual que disputam o olhar dos milhares de passantes.
Achei interessante como as mensagens se misturam, independente do conteúdo, não existe nenhuma preocupação em ocupar espaços específicos para cada tipo. Pelo contrário, o que vemos são cartazes de campanha pregados junto a mensagens religiosas e propagandas de motel barato, num "mistureba" que, pra mim, nada mais é que a expressão visível do caos que é o centro de qualquer grande cidade. Assim como o shopping popular Oi (apoque), os anúncios e cartazes do Centro têm de tudo um pouco, é só procurar.
Naturalmente, que outro tipo de veiculação alcançaria potencialmente tanta gente por um preço tão barato? Cada pedacinho de tapume, cada parede, cada poste são aproveitados. As mensagens se "acotovelam" nos espaços apertados, e não há muita consideração se for preciso colar onde já esteja ocupado . O importante é dar o recado. me faz lembrar o tipo de publicidade que as grandes lojas de varejo tentam fazer, berrando na televisão, "grudando" musiquinhas na cabeça do espectador. O estímulo visual é mesmo muito grande, e seria muito exaustivo tentar prestar atenção em tudo que se vê. É como estar num shopping center, as luzes, as cores, a multidão; tudo pede seu olhar, a toda hora alguém quer te vender, ou te convencer ou te convocar pra alguma coisa.
Alguns parecem mesmo apelar pro cafona, pro quase ridículo. É tão estranho, imaginem, estar indo almoçar e se deparar com uma cabine de "Streep"- tease, super higienizada. É o tipo de "conveniência" que só se encontra no centro, tanto faz ao lado de uma loja de roupas ou de uma livraria evangélica. Uma constelação de imagens e escritos que concorrem pela visibilidade dos apressados traseuntes. Olhando com atenção, dá até pra notar quando alguém não acostumado está passando, um semblante meio tenso, uma pressa inconsciente- "perái, por que que eu tô correndo?"
Quanto mais berrantes as cores do graffiti, melhor. Cartazes com letras rosa choque têm mais apelo, assim como os homens placa, assim como a pixação no alto do prédio. Nada como uma foto de mulher semi-nua pra ganhar pelo menos uma olhadinha. Se precisar de 144 camisinhas, no centro você encontra em promoção, diz o cartaz em cima da marquise do boteco. Há quem veja humor e até um estranho lirismo nisso tudo.
Eu pessoalmente acho muito cansativo ir ao Centro, tendo que prestar atenção a cada passo, desviar, correr no sinal, olha isso, olha aquilo, uma paradinha aqui, um mágico ali, promoções anunciadas pelo microfone... São muitos apelos, que se apropriam como podem de cada espaço vazio, fazendo do centro um grande mercadão popular e meio de sobrevivência.
Daniel Bayão
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
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