quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Errando o caminho, com prazer


Errante: corporeidade, uma forma de resistência à espetacularização. É o andar despretensioso e consciente pela cidade. O errante é aquele que se preocupa mais com as ações e os percursos. Qualquer um pode ser errante.
Ao fim do seminário deixamos algumas perguntas ainda (e talvez, sempre) sem respostas. A primeira é uma dúvida sobre até onde o urbanismo conversa com o errante para criar uma cidade mais "vivenciada"? Ao longo do texto, e também em outras leituras em sala de aula, ficou claro para nós a crítica ao urbanismo enquanto uma atividade elaborada e realizada de cima para baixo.
Quando um arquiteto ou urbanista planeja uma cidade, normalmente, ele pega o mapa do local e delineia ruas, avenidas e quarteirões a partir daquele pedaço de papel. O profissional não desce a campo para ver as relações estabelecidas na cidade e quais usos as pessoas fazem de um espaço vazio, um banco, uma árvore, um meio-fio. Esses “praticantes ordinários” da cidade, como dizia Michel de Certeau, eram afetados pela visão “do alto” dos urbanistas quando o espaço em que viviam era transformado, reconfigurado por um novo projeto.
Descer a campo nos parece uma alternativa viável para que o urbanista consiga entender como a cidade é vivenciada e tentar, dessa forma, não só modificar o espaço, mas potencializar os usos possíveis. E fazer isso de uma forma que dialogue com quem “experimenta” diariamente tal espaço.
A segunda pergunta, no entanto, traz mais complexidade à primeira resposta: O sentimento de experimentação da cidade tem a ver com a sua forma ou com um sentimento de "se deixar levar"? Paola Jaques mostra, no texto, como o errante o é de forma consciente. O praticante ordinário torna-se errante por um desejo de experimentar a cidade de uma forma diferente, não habitual. Ele vai realizar essa atividade subjetiva e singular esteja onde estiver.
Será que, para o errante, uma cidade mais ou menos incorporada aos movimentos de seus cidadãos faz diferença para a realização dessa prática? Acreditamos que sim. Em pequenos exemplos podemos registrar nossa opinião. Ruas largas e calçadas estreitas: pequeno espaço para movimentação do errante e freqüentes interrupções (postes, lixeiras e outros objetos no meio do caminho, pessoas trombando, excesso de publicidade). Nenhum banco ou espaço de parada: o errante também vivencia a cidade parado, observando o movimento.
Quanto mais próxima a noção de mercadoria a ser consumida, menos a cidade pode oferecer ao errante. Além disso, a atuação desses praticantes contribui para um urbanismo mais incorporado. O movimento é, então, de mão-dupla: uma cidade que oferece essa possibilidade dá chance ao errante de pessoalizá-la.

Grupo Artigo Corpografias Urbanas:
Alexandra Duarte
Ana Flávia Oliveira
Juliana Galvão
Júnea Casagrande
E agora vão o links da nossa apresentação para quem quiser ver!

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