sábado, 15 de novembro de 2008

Sobre a Deriva de 02 de outubro

Vai ai o meu relato de viagem.
Rafael Cerqueira


Experiência de campo - 02/10/2008
Início: 14h30
Término: 16h20
Itinerário: Av. Afonso Pena – Rua da Bahia – Rua Aarão Reis – Av. dos Andradas – Rua dos Guaicurus – Rua São Paulo – Av. Afonso Pena


Para facilitar minha análise a respeito da deriva realizada no dia dois de outubro, decidi dividir o percurso feito em duas áreas: a primeira área, em torno da Av. Afonso Pena, inicia-se na Praça Sete e vai até a Rua da Bahia, na esquina com a Rua dos Tamóios (denominarei A1); a segunda área (que denominarei A2), vai da Av. dos Andradas, passando pela Rua dos Guaicurus, até a esquina da Rua São Paulo com a Av. Afonso Pena. De modo geral, meu olhar buscou perceber tudo o que estava no meu caminho: pessoas, edificações, fluxo de trânsito, etc. As minhas anotações descreveram processos culturais, edificações, paisagens, porém, minhas análises se referem estritamente às pessoas, e os usos que essas faziam do espaço em que percorri.
Em A1, as coisas que me chamaram a atenção foram os ritmos das pessoas ao longo de suas caminhadas, os aspectos demográficos (relação de quantidade entre homens e mulheres), a conservação das ruas e organização do trânsito que, por sinal, recebe grande parte do fluxo de veículos que trafega pelo centro – neste perímetro encontra-se a Av. Afonso Pena, uma das mais importantes da cidade. Neste setor há uma grande concentração de prédios e estabelecimentos comerciais e de serviços, tais como escritórios, consultórios, bancos, etc. Geralmente, as pessoas que transitavam por lá aparentavam estar mais bem vestidas e, outro fator que também me chamou a atenção foi a pouca interação entre os transeuntes: dificilmente havia duas ou mais pessoas caminhando juntas, sequer conversando entre si. É neste setor, também, que está localizado o Parque Municipal, a maior área verde do centro de Belo Horizonte.
Por sinal, em A2, percebi um outro ritmo: maior quantidade de homens, trânsito mal organizado, muito barulho advindo, sobretudo, do comércio popular da região, ruas menos limpas. O intenso comércio da região é composto, em sua maioria, por bares, lojas de roupas, lanchonetes e papelarias. Algo interessante que observei neste setor foi a grande quantidade de pessoas, sobretudo homens, que estavam nos bares, em plena quinta-feira a tarde, bebendo cerveja tranquilamente, acompanhados, geralmente, por outros homens; durante minha caminhada, na praça da Estação, me deparei com uma senhora idosa que confeccionava um vestuário de crochê, em meio ao intenso fluxo de transeuntes na região.
Fazendo uma observação demográfica, posso dizer que A1, com grande concentração de comércios e serviços, é uma área mais densamente habitada por mulheres, em comparação com A2, que percebi ser predominantemente masculina. Enquanto esta é marcadamente caótica, em parte pelo trânsito, barulhenta pelo som alto de música que tocava nas lojas de gênero musical, e lotada pela grande quantidade de pessoas que caminhavam pelas ruas, o ritmo desses transeuntes era bem diferente do ritmo de caminhada dos transeuntes de A1, estes mais agitados; porém em ambas as áreas, geralmente, as pessoas caminhavam bem apressadamente.
Desta forma, tive a ousadia de fazer alguns pequenos apontamentos sociológicos: pelo que percebi nesta experiência de deriva, o uso que as pessoas faziam do espaço urbano não era, de todo modo, individualizado, mas conformava-se ao contexto social que um determinado espaço é construído. Ou seja, quero dizer que, a meu ver, há uma relação entre a organização do espaço (composto pelo comércio, pelos serviços, pelo trânsito, pela quantidade de prédios e área verde) e as práticas culturais que, como tais, não devem ser consideradas estritamente individualizadas, uma vez que são expressadas pelos indivíduos que constituem aquela sociedade. Um parque, um comércio barulhento, um trânsito carregado ou caótico, influencia as práticas culturais manifestadas pelos indivíduos que se situam naquele espaço. Ou seja, no espaço urbano, a cultura é produzida, vivenciada, significada e re-significada pela relação dos homens entre si e dos homens com o ambiente. Um pequeno “micro-cosmo” vai apresentar práticas culturais diferenciadas, em relação a outro “micro-cosmo”.

Nenhum comentário: