Quando fui à exposição “A Arte nos Mapas: uma Viagem pelos Quatro Cantos do Mundo”, na Casa Fiat de Cultura fiquei impressionada com a quantidade de coisas que os mapas, ao menos os mais antigos, revelam sobre a vida, os costumes e o imaginário de um povo e de uma época. Os mapas apresentados na exposição, renascentistas e posteriores, vão muito além de representações do espaço físico dos países e continentes. Monstros marinhos e outras crenças, imagens da fauna e da flora, e até referências de padrões de beleza aparecem no mapas.
Com o tempo, essas representações foram deixadas à margem e passaram a ter importância secundária nos mapas. A realidade cotidiana daquele espaço ali representado deixou de ser incorporada a tal representação. As alegorias passaram a revelar apenas o interesse econômico e político do europeu em relação aos outros territórios.
Depois de ler o texto “Caminhadas pela Cidade”, de Michel de Certeau, no qual o autor critica a redução do caminhar, do trajeto, da experiência singular à traços em um papel, à mapas, fiquei pensando que essa mudança na forma de concepção e entendimento dos mapas pode ter ido mas além do que apenas a perda da beleza artística desses instrumentos cartográficos.
A não incorporação dos elementos do cotidiano nas representações do espaço faz com que esses ambientes percam vida. Os mapas existem por uma necessidade humana de visualizar os lugares. No entanto, não me parece coerente ignorar nessa visualização o próprio homem e suas ações, já que essas ações interferem constantemente na realidade dos espaços, atribuindo a eles novos significados.
Talvez falte um pouco do olhar artístico (ou melhor dizendo, do olhar crítico) dos renascentistas nos urbanistas contemporâneos, para que os traços dos mapas ganhem mais significação e o próprio espaço, mais identidade e identificação.
Postado por Júnea Casagrande
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
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