
Quando soube que ocorreria a 2º edição do projeto Belo Horizonte Music Station (para quem não conferiu ainda, o site é http://www.bhmusicstation.com.br/) fiquei super empolgada. O projeto consiste na realização de shows nas Estações Central, Santa Inês, Minas Shopping e Vilarinho. Artistas e bandas como Arnaldo Antunes, Tom Zé, Nação Zumbi, Movéis Coloniais de Acaju se apresentarão durante a madrugada de quatro fins de semana e as pessoas poderão circular, através do metrô, de um show para outro. Também acontecerão performances, esquetes teatrais, poesia e circo.
Acho que o que mais atraiu na idéia do projeto foi a possibilidade de deslocamento inerente ao fato de se realizar no espaço dos metrôs e o ambiente das estacões, que relaciono sempre à algo meio obscuro, underground. Só relaciono, porque foi então que me dei conta de que nunca fui a um metrô em Belo Horizonte. É estranho pensar que foi preciso um evento para me levar a atentar para esse meio de transporte coletivo. Não por necessidade, mas por lazer é que vou conhecer o metrô de BH. E detalhe, quando mudei para cá, morava no Palmares, bem perto da Estação Minas Shopping e se tivesse criado o hábito de usar o metrô como meio de transporte, isso teria me evitado muitas horas de engarrafamento no deslocamento entre meu bairro e o centro da cidade, por exemplo.
Janice Caiafa destaca que o equipamento coletivo presta um serviço para coletividade, logo torna-se um equipamento de serviço. O ato de transportar-se através do metrô constitui uma forma de uso que suplanta o esquadrinhamento do controle. No entanto, ocorre um fenômeno central no regime da gestão privada dos equipamentos coletivos que desloca o uso para o consumo. Não se usa o metrô porque esse é um direito do usuário, mas o mesmo torna-se um cliente que compra o deslocamento.
A riqueza e pluralidade desse meio de transporte coletivo consistem nas possibilidades de processos comunicativos e sociabilidades que se desenvolvem a partir da experiência de se frequentar esse espaço. Segundo Caiafa, o transporte coletivo tem uma função de “dar fuga”, abrindo espaço para a variação dos processos subjetivos e uma comunicação da diferença. O transportar-se abre possibilidades para o contato e interação com pessoas desconhecidas, umas das marcas do meio urbano.
O projeto Belo Horizonte Music Station reapropria um espaço público configurado para atender as necessidades de deslocamento das pessoas no meio urbano e coloca-o como um espaço particular voltado para o lazer e cultura. A resignificação do espaço dos metrôs que se opera por meio desse deslocamento abre espaço para o estabelecimento de novos tipos de relacão entre os sujeitos que frequentarão esse espaço e entre os sujeitos e esse meio. Particularmente, achei ótima essa iniciativa, pois me instiga a idéia do movimento, da circulação de pessoas, do espaço do metrô ocupado durante a madrugada.
No entanto, fica a questão: para que público se volta esse projeto? Com um ingresso no valor de 60 reais a inteira, a maioria das pessoas que vai a esse evento é formada de individuos que mal utilizam esse transporte coletivo. A grande parte da população que frequenta os metrôs no seu dia a dia fica excluida dessa manifestação. Novamente, ocorre o deslocamento do uso para o consumo de um produto.
Paula Santos.
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