sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Deriva - Política ou politicagem?

Cartazes e mais cartazes de políticos. Prefeitos e vereadores – principalmente vereadores – disputando espaço nas ruas e nas paredes, às vezes, até no céu. Em época de campanha eleitoral, não há um muro que escape a um número e um nome peculiar escritos principalmente de vermelho, para chamar a atenção.

Durante a deriva no hipercentro de BH enumerei os principais tipos de propaganda usados pelos políticos: papeis no chão, grudados na parede, pessoas com camisas de políticos, pessoas segurando faixas, alto-falantes em carros e na mão de militantes, adesivos e, acreditem, laranja – a fruta. Informação em qualquer canto, aonde quer que a gente fosse. Mas, ao contrário, ao invés de ver, ouvir, entender, escolher um candidato, todos estão cegos e surdos. Sem se importar, todos seguem o seu caminho.

Em BH, foram 9 candidatos a prefeito e mais de 600 a vereador. A grande concorrência faz com que os políticos comecem uma luta por visibilidade. Entre tantos nomes, nós não sabemos da metade. Às vezes porque metade deles não fizeram tanta propaganda. Essa é a lógica que impera em época de eleição. Quanto mais propaganda, mais serei visto, logo, mais chance terei de ser eleito. Talvez dê certo. Lembro que quase todos os dias pela manhã, um carro saía cantando: "Lu-ís Tibé, vereador… setenta – zero setenta". Ele foi eleito.

Mas não é sempre que se consegue isso. A estratégia de Luís Tibé foi interessante: deu mais ênfase em bairros calmos, onde tem um grande número de pessoas, mas que é quase totalmente residencial. Os cartazes desse atual vereador também podiam ser vistos no centro da cidade e em outras localidades, mas não era seu foco. E ele devia ter propostas interessantes (será?).

De qualquer forma, estratégia de marketing e propaganda política são incertas. Até onde pintar um muro com o seu nome garante um voto? E distribuir folhetos? Criar uma estratégia nova, como usar um balão inflável, chama a atenção. Ganha votos? Não se sabe. No centro de Belo Horizonte, durante toda a deriva, o que verifiquei é que, pelo menos naquele local, propaganda não garante eleitorado.

Foi dada a largada

O local de partida, Praça Sete, era onde todas essas formas de propaganda se encontravam. Cheguei à deriva sem tema, mas assim que vi a poluição visual que causava aquele monte de nomes, números e cores espalhados pela praça foi como um estalo. Não demorou muito para perceber que eu também desviava de qualquer pessoa que quisesse me dar um panfleto e passava o mais longe possível da menina gritando no alto-falante. As pessoas passavam rápido, olhando pro chão ou pra frente, sem se deter sob qualquer faixa de algum "candidatável".

Seguindo pela Afonso Pena até a rua da Bahia, diminuíram o número de pessoas fazendo campanhas, mas ainda era quase o mesmo número de folhetos e cartazes. A avenida dos Andradas era o local que menos tinha propaganda de qualquer natureza. Não consegui encontrar uma explicação convincente, mas talvez porque o número de pessoas que passavam pelo local era menor.

Seguimos pela Guaicurus. Daí para a São Paulo, Oiapoque e Curitiba. Nessas quatro ruas, as impressões são quase as mesmas que as do trecho Afonso Pena-Bahia: cartazes e folhetos. Da Avenida Amazonas até a Praça Sete, começamos a ver novamente um maior número de propagandas. Na primeira esquina já podíamos ver mulheres que seguravam uma faixa de um vereador enquanto os carros estavam parados no sinal vermelho.

Vox populi

No início do trajeto, me veio a pergunta: Que excesso é esse? São propagandas de muito políticos ou poucos políticos repetem as propagandas? Assim, comecei a anotar todos os nomes de políticos que encontrava no meio do caminho. Entre a Rua da Bahia e Curitiba, anotei 32 nomes e recebi 8 panfletos (apesar de que 6 deles foram na Praça Sete). Comparando com mais de 600 candidatos à cargos públicos, era pouco.

Mas durante as anotações uma pergunta ainda mais pertinente: como afirmar que esse excesso de propagandas não influenciam as pessoas se eu não sei em quem elas votam? Comecei a fazer "pesquisa de intenção de voto". 4 pessoas ainda não sabiam, outras 4 votavam em outra cidade, 2 iam votar nulo e 3 pessoas sabiam o prefeito, mas não tinham definido o vereador. Eis outras respostas que ouvi após perguntar "em quem você vai votar nas eleições?":

- "Vou votar na Jô. E vereador provavelmente legenda".

- "Prefeito? Leonardo Quintão. E pra vereador eu vou votar no Marcelo… pai do meu genro (risos)".

- "Pra prefeito eu não sei, mas pra outro cargo aí vou votar numa mulher que é da associação do meu bairro".

- "Vereador? É o Preto do Sacolão (gargalhadas)".

- "Leonardo Quintão. Ele é pra prefeito, né?".

- "Não sei ainda, por incrível que pareça".

Não, não é incrível. Me impressionou, além do número alto de pessoas (em comparação com a amostragem) que vieram de outras cidades pra BH, como nenhuma delas disse nenhum nome que eu tinha anotado durante o trajeto. Os prefeitos ainda não estão decididos, mas já temos uma maior certeza da população quanto ao candidato escolhido. Os vereadores ou são próximos, parentes e amigos, ou são lideranças de bairro, ou são uma incógnita.

Blasé "way of life"

Ao chegar no centro, somos atacados por inúmeros estímulos. Se observarmos tudo o que está ao nosso redor ficamos um tanto quanto desnorteados, e até mais cansados física e psicologicamente. Algumas atitudes que as pessoas tomavam no centro de BH para se esquivar – literalmente – das propagandas indesejáveis eram verdadeiras táticas de sobrevivência.

O comportamento blasé, como descreve Georg Simmel, é essencial para quem deseja "se aventurar" pelo hipercentro da capital mineira. Recebemos tamanha quantidade de estímulos que, em algum momento, não conseguimos reagir a novas sensações com a energia que deveríamos dispor a elas. Para o autor, uma das maiores diferenças entre um morador do campo e um da metrópole, é o fato de que os primeiros ainda não possuem a capacidade de "discriminar", ou seja, saber o que mais lhes interessa, saber para onde olhar. Essa capacidade impede a sensação de exaustão, devido à quantidade de estímulos nervosos recebidos durante o dia.

2 comentários:

Unknown disse...

Ei, de quem é essa postagem ???
esqueceu de assinar!
abraços,
Daniela

Ju Afonso disse...

Lembrei disso ontem. Desculpe o esquecimento.

Postagem: Juliana Galvão Afonso